Calvície, queda de cabelo: causas e tratamento

A queda de cabelo, conhecida como calvície (ou calvíce), recebe em medicina o nome de alopecia androgênica. Alopecia significa queda de cabelo, e androgênica se refere a influência dos hormônio masculinos no processo. Explico mais a frente.

Muitas pessoas acham que a calvície é um problema restrito aos homens, mas na verdade, acomete mulheres na mesma proporção. A diferença é que a queda de cabelo nas mulheres por ser mais discreta, é mais facilmente camuflável.

Para entender a calvície (alopecia) é preciso primeiro entender o que são os pêlos e qual o ciclo de vida do cabelo.

Os pêlos e cabelos são estruturas cilíndricas compostas por proteínas, principalmente queratina, que crescem através da pele pelos folículos pilosos situados nas regiões mais profundas da derme. Todo o corpo, exceto palmas das mãos e plantas dos pés, possui folículos pilosos e consequentemente pêlos. Eles podem ser muito claros e finos e passarem despercebidos, mas estão lá.

Os pêlos apresentam características e velocidade de crescimento diferentes em cada local do corpo, o que é facilmente perceptível quando comparamos cílios, cabelos, pêlos pubianos e a barba, por exemplo.


Abaixo se pode ver a representação de um folículo piloso.
O couro cabeludo possui em média 100.000 de fios de cabelo, com um crescimento médio de 1 a 2 cm por mês. Todos os dias perdemos aproximadamente 75 a 100 fios. Dependendo da época do ano, da fase da vida e de fatores ambientais, este número pode aumentar.

O ciclo de vida do cabelo é dividido em 3 fases (acompanhe a figura abaixo):


1- Anágena ou fase de crescimento dos cabelos.
Dura em média de 2 a 3 anos, podendo chegar até a 7 anos.

2- Catágena ou fase de involução.
Dura apenas algumas semanas, em média duas ou três. Nesta fase o cabelo pára de crescer e o folículo começa a regredir.

3- Telógena ou fase de desprendimento.
Dura 3 a 4 meses. O cabelo se solta da papila e uma nova fase de crescimento começa. Conforme o novo cabelo vai crescendo, o antigo "morto" é empurrado para fora do folículo piloso e cai.
Esse processo de crescimento e morte ocorre em todo o corpo com velocidades diferentes para cada tipo de pêlo. Pêlos que demoram muito tempo para crescer caem antes de ficarem grandes. Este ciclo explica o motivo de alguns pêlos nunca ultrapassarem certos tamanhos e por que mesmo que nunca se corte o cabelo, este raramente ultrapassa a linha da cintura.

Dos 100.000 cabelos no seu couro cabeludo, neste momento, aproximadamente 85% estão na fase de crescimento, 5% na fase de involução e 10% na fase de queda.

O que causa a calvície?


A calvície ou alopecia androgênica é causada por um encurtamento da fase de crescimento (anágena), por um afinamento progressivo do fio de cabelo e pela redução do tamanho dos folículos, fazendo com que a raiz fica cada vez mais próxima da superfície da pele, como representado na figura abaixo.
Essa miniaturização do folículo é um processo hereditário e mediado por hormônios masculinos.
Padrões de queda de cabelo

Para ser mais exato, o problema ocorre naqueles pacientes que produzem excessivamente uma enzima chamada de 5 alfa-redutase, que transforma o hormônio masculino testosterona em um derivado chamado de dihidrotestosterona. Fatores genéticos determinam essa produção excessiva.

A dihidrotestosterona se liga a receptores existente em alguns folículos pilosos provocando a redução do seu tamanho. Portanto, a calvície ocorre naqueles indivíduos com altos níveis de dihidrotestosterona e numerosos folículos com receptores para a mesma.


As diferentes distribuições dos receptores de dihidrotestosterona entre indivíduos explica porque temos diferentes tipos de calvície. A figura abaixo ilustra os padrões mais comuns de queda de cabelo no sexo masculino.


Nas mulheres, a alopecia androgênica é mais difusa pelo couro cabeludo, porém, é menos intensa. Em geral o que ocorre é um afinamento intenso dos fios de cabelo, que ocorre principalmente no centro e no ápice da cabeça. Calvície completa, como nos homens, é rara em mulheres.

Padrões da queda de cabelo nas mulheres

Tratamento da calvície


Existem apenas 2 drogas aprovadas pelo FDA (food and Drug Administration) americano:


- Minoxidil em solução tópica (aprovado para homens e mulheres)

- Finasterida por via oral (aprovado apenas para homens)

a.) Minoxidil


A solução de minoxidil para aplicação direta no couro cabeludo melhora a queda de cabelo por aumentar o tempo da fase anágena e estimular o crescimento dos folículos miniaturizados. Os resultados demoram pelo menos 4 meses, sendo pronunciados no ápice do couro cabeludo e menores na região frontal.


O tratamento é para vida inteira. Com a interrupção, retorna-se a perda de cabelo.


b) Finasterida


A finasterida é um medicamento originalmente usado na hipertrofia prostática, mas que apresentava como efeito colateral uma redução na queda de cabelo dos pacientes
A droga é um bloqueador da enzima 5 alfa-redutase, o que, como explicado anteriormente, impede a transformação da testosterona em dihidrotestosterona (DHT), responsável pelos efeitos negativos nos folículos pilosos.

Com a Finasterida ocorre aumento do número de fios de cabelo, que também se tornam mais grossos e fortes.


A finasterida em mulheres ainda não se mostrou eficaz e comprovadamente causa má formações fetais.


Não existem evidências que tratamentos a base de laser ou outros tipos de luzes, muito divulgados na mídia, sejam realmente eficazes para impedir a queda de cabelo. Resista à tentação de experimentar tônicos capilares milagrosos. Além de não funcionarem, podem acelerar o processo.


Tanto a finasterida com o minoxidil apresentam efeitos colaterais e contra-indicações. Existem várias outras causas para perda de cabelo além da alopécia androgênica. Portanto, se você tem queda de cabelo, procure um dermatologista para que ele possa decidir a melhor estratégia terapêutica para o seu caso.


Outros tipos de queda de cabelo


Existem várias outras causas para queda de cabelo. Ao contrário da calvície, costumam causar perdas localizadas e irregulares. Porém, em casos difusos podem se assemelhar a alopécia androgênica. Vou citar as causas mais comuns:


a. Efluvio anágeno =
É a queda de cabelo que ocorre, por exemplo, na quimioterapia, radioterapia e envenenamentos com mercúrio.

b. Efluvio telógeno =
Ocorre como efeito colateral de várias drogas, deficiências de vitaminas, estresse psicológico e doenças da tireóide (leia: DOENÇAS E SINTOMAS DA TIREÓIDE).

c. Alopecia traumática =
Ocorre por trauma mecânico e/ou químico do cabelo. Pode surgir após algumas técnicas de alisamento de cabelo com repetidas tração do mesmo associado ao uso de produtos químicos. Algumas pessoas com crises nervosas podem arrancar o próprio cabelo.

d. Alopecia areata =
É uma doença auto-imune (leia: DOENÇA AUTO-IMUNE), onde o corpo passa equivocadamente a produzir anticorpos contra os seus folículos pilosos. O couro cabeludo é o mais afetado, mas pode haver perda de pêlos em qualquer parte do corpo.

e. Tinea capitis =
Infecção do couro cabeludo por fungos

f. Lúpus discóide
(leia: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO).

Autor do artigo: Dr. Pedro Pinheiro - Médico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2002. Diploma reconhecido pela Universidade do Porto, Portugal. Título de especialista em Medicina Interna pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em 2005. Título de Nefrologista pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) em 2007. Título de Nefrologista pelo Colégio Português de Nefrologia.