Novas evidências
ósseas sugerem que o explorador Colombo e seus marinheiros não apenas
introduziram o Novo Mundo ao Velho Mundo, mas também a sífilis.
A doença é causa
pela bactéria Treponema pallidum, e hoje pode, geralmente, ser curada
com antibióticos. Quando não é tratada, podem ocorrer danos no coração,
cérebro, olhos e ossos, podendo até ser fatal.
A primeira epidemia
que se tem conhecimento ocorreu durante a Renascença, em 1495. Inicialmente, a
praga de sífilis atacou o exército de Carlos VIII, após o rei francês invadir
Nápoles. De acordo com o pesquisador George Armelagos, após isso, a epidemia
devastou a Europa.
“A sífilis está
presente por cerca de 500 anos”, afirma a pesquisadora Molly Zuckerman. “As
pessoas começaram a debater suas origens logo após o surgimento, e não pararam
desde então. Foi uma das primeiras doenças globais, e compreender sua origem e
como se alastrou talvez possa nos ajudar a combatê-la nos dias de hoje”.
O fato de a sífilis
ser uma doença estigmatizada como sexualmente transmissível adicionou
controvérsias a sua origem. O pesquisador Kristin Harper afirma que as pessoas
geralmente querem por a culpa em outro país.
No começo, Armelagos
duvidou da teoria de Colombo para a sífilis, quando a ouviu, décadas atrás. “Eu
ri da idéia de que um pequeno grupo de marinheiros trouxe a doença que causou a
maior epidemia européia”, relembra. Críticos dessa teoria afirmam que a sífilis
sempre esteve presente no Velho Mundo, mas nunca foi separada de outras
doenças, como a lepra.
Entretanto, com
novas investigações, Armelagos e seus colegas descobriram que toda evidência
encontrada dava suporte à teoria de Colombo. Os resultados dessas pesquisas
foram publicados em 1988. “Foi uma mudança de paradigma”, afirma. Então, em
2008, análises genéticas da família da bactéria da sífilis deram ainda mais
evidência à teoria.
Ainda assim, há
sinais aparentes em 50 esqueletos da Europa, de antes de Colombo, de lesões
crônicas da sífilis. Isso soa como evidência de que a doença se originou na
Europa, antes das expedições do explorador.
Armelagos e sua
equipe analisaram todos esses dados novamente. Eles descobriram que a maioria
do material esquelético não batia realmente com pelo menos um dos diagnósticos
principais da sífilis crônica, como lesões tumorais e inchaços no crânio e nos
ossos longos. “Não existem boas evidências de um caso de sífilis na Europa
antes de 1492”, afirma Armelagos.
Os 16 casos que
batiam com os critérios da sífilis vieram de regiões costeiras, onde os frutos
do mar são a maior parte da alimentação. Esses alimentos contêm “carbono
antigo” de águas profundas do oceano.
“Após ajustarmos
essa ‘assinatura marítima’, todos os esqueletos que apresentavam sinais
definitivos de sífilis revelaram-se posteriores ao retorno de Colombo à
Europa”, afirma Harper.
“O que isso
realmente me mostra é que a globalização da doença não é uma condição moderna”,
comenta Armelagos.
“Em 1492, você tinha a transmissão de um número de doenças
da Europa que dizimou os americanos nativos. A lição que podemos aprender da
história é que essas epidemias são o resultado de perturbações”, adiciona
Armelagos. “Com a sífilis, guerras estavam ocorrendo na Europa, e todo o
tumulto abriu espaço para a doença. Hoje, muitas doenças pulam as barreiras das
espécies devido a problemas ambientais”.
“A origem da sífilis
é uma questão fascinante”, afirma Zuckerman. “A evidência corrente é bem
definitiva, mas não devemos fechar o livro e dizer que está acabado. O grande
ponto da ciência é estar constantemente apta a entender as coisas sob uma nova
luz”.
Fonte: LiveScience