É evidente que todos os dias experimentamos doses extremas
de violência que chega a nossos lares através da TV e da internet, no entanto
essa violência tem ganho um ar mais sofisticado e pérfido com os chamados
filmes de horror contemporâneos. Vale lembrar que o filme de horror
diferentemente do gênero terror, emprega na crueldade o seu maior foco,
visitando áreas da violência como a física, a psicológica e a moral.
A princípio é bom deixar claro que o gênero
cinematográfico horror possui como intuito primordial provocar uma catarse do
choque no expectador a partir de um exercício de julgamento que informa que o
que está sendo exibido é contrário a noção de humanidade que a pessoa que
assisti possui.
Alguns filmes clássicos como Platoon, se apropriavam somente da violência
física para provocar a repulsa de seus clientes (expectadores), porem somente
esta começou a não bastar para atrair os olhares de um público a cada vez mais
ávido por cenas alternativas de violência.
Deste modo a violência migrou para âmbito psicológico com obras que exploravam
formas distintas de causar trauma em uma determinada pessoa associadas algumas
vezes ao viés físico. Temos no recente filme “Enterrado Vivo” um exemplo claro
desse horror psicológico, no qual um caminhoneiro que prestava serviços no
Iraque passa o longa todo enterrado em um caixão de madeira pelos inimigos em
constante tensão, sofrendo as dores do claustro e do desprezo por parte de sua
firma que o demite. Aqui o expectador se horroriza (ou deveria se horrorizar)
com a situação que provoca uma agonia desesperadora.
É bem verdade que a maioria dos filmes do gênero horror possuem uma
crítica aos hábitos sadomasoquistas da população, neste âmbito vemos películas
como “Sem Vestígios”, o qual levanta uma polêmica bem interessante acerca do
tema internet e interatividade. No filme o assassino utiliza-se da rede de
computadores para expor suas vitimas e apresenta uma proposta diabólica. Ao
acessar o site com o nome sugestivo de “Quer matar comigo?” os internautas se
deparavam com uma pessoa presa em uma espécie de armadilha que a cada acesso ao
site diminuía mais o tempo de vida do encurralado em tal engenhoca. Logicamente
percebe-se aqui a nítida influencia do longa Jogos Mortais, um marco na
banalização dos filmes de horror, somado ao apelo contemporâneo da chamada
interatividade proporcionada pela mídia digital. Não há como negar a
crítica levantada, já que as pessoas só morrem por causa da colaboração de
internautas, os quais ocultos pela rede expõem psicóticos desejos em relação ao
próximo. Assim é exposta a violência moral a qual ataca justamente aquilo que
julgamos como sendo o certo ou errado em matéria de sociedade.
Na mídia televisiva temos também exemplos que apontam para
esse caminho como a série de televisão Dexter. Nessa um sóciopata canaliza sua
patologia para o exercício do que o seriado julga ser justo, isto é, o
personagem título mata criminosos cruéis, os quais fizeram coisas que chocaram
a sociedade, porem Dexter os mata é claro com requintes de crueldade também
como só um Hanibal Lecter de o “Silencio dos Inocentes” poderia conceber. Não
se tira aqui o mérito da série de criar um protagonista que seja tido como um
vilão (um assassino) algo não tão usual em matéria de produções
cinematográficas e televisivas, porém é necessário frisar que ao fazer isso o
seriado cria no inconsciente coletivo uma certa simpatia pela figura do
psicopata e pelo o que ele representa.
É necessário atentar-se para o fato de que os mais influenciáveis indivíduos
desse tipo de obra são os jovens, visto que estes estão em um processo de
constituição de personalidade e é natural, por isso que confrontem aquilo que
os adultos lhe dizem ser o certo. Nessa linha vemos o perigo de exposição de
obras que questionam a humanidade num mundo de expectadores que ainda estão se
definindo como humanos. Só pelo fato de obras como Sem Vestígios e Dexter
obterem tanto sucesso já nos aponta para um gradativo processo de
desumanização. Este talvez possa ser combatido em um embate direto confrontando
as idéias desse tipo de filme numa exibição, pois fingir que eles não existem e
só por não conversar sobre esta ou tal obra ela não chegará a nossos
adolescentes seria uma ingenuidade a qual eles mesmos já não mais possuem.
Fonte: Paulo Prosajunior(Blog Mídias e Massas)