Existe no ecossistema político, e porque não social (afinal
a politiké afeta todos os aspectos da nossa vida), duas espécies predominantes:
os ratos e os abutres. Tais seres são responsáveis por toda carga de
frustração, indignação e angústia da sociedade para com as nossas autoridades.
Os ratos ocupam-se das tramóias, da criação, fortalecimento
e divulgação os boatos e das intrigas. Estão sempre com "novidades"
na ponta da língua, conversas de pé de ouvido, sempre presenciais, jamais ao
telefone: são os reis do "ouvi dizer", "eu soube de um negócio
ali..." e do "mas não conta pra ninguém".
Trabalham em benefício próprio, cobiçando um novo cargo, uma
promoção ou um cafezinho para desenrolar aquelas dificuldades burocráticas
criadas por eles para vender facilidades. Transformam desconhecidos em amigos
de infância conforme a conveniência. Sinceridade e lealdade não existem no seu
vocabulário e tão pouco em sua postura, mas mentira e falsidade sim! Com essa
mesma facilidade elegem seus inimigos mortais, mas nunca perenes, pois "o
cenário pode mudar" e na politicagem ele muda todo dia.
Afinal de contas
não há planejamento estratégico na ganância dos ratos, são tão inconstantes
quanto seu humor, mudam de gostos e desejos como trocam de roupa todos os dias.
Abutres são mais simples e abundantes, geralmente usados
pelos ratos como massa de manobra dos seus interesses. Não afeitos ao trabalho,
vivem procrastinando e descobrindo novas e empolgantes maneiras de enrolar seu
ofício até o horário de bater o ponto. Menos gananciosos, não se preocupam
tanto em crescer na vida, estão acomodados e conformados com seus direitos
adquiridos, adoram feriados e dias santos.
São extremamente pessimistas, vivem
por agourar o trabalho dos colegas que se destacam e detestam mudanças que
afetem suas tarefas e obrigações, pois isso significa descobrir novos hábitos
que proporcionem o retorno ao seu ócio recreativo.
E por falar em recreação, adoram as novidades trazidas pelos
ratos, e fazem questão de ramificá-las, pois como diz o ditado "... quem
conta um conto aumenta um ponto". E quão habilidosos eles são em
especular, sempre negativamente claro, porque "nada nesse país dá
certo", "isso eu já sabia que ia acontecer", "é o
jeito". A má vontade impera, e o pré-julgamento também, pois acham-se
juízes e com a pouca e rala informação trazida pelos ratos, rapidamente
condenam e caluniam aqueles que não conhece e/ou não são do seu agrado. Tal
como carrascos da moral, esquecem de se olhar no espelho, de pensar no direito
que têm de apontar o dedo para quem quer que seja e o pior, no mal que isso faz
para eles mesmos.
Custa-me acreditar que Santo Agostinho estava certo em dizer
que é da natureza do homem ser mau, mesmo com todas as atrocidades que
presenciamos todos os dias, mesmo com tantos ratos e abutres alimentando-se dos
restos podres da dignidade humana. Então eu vejo aqueles que acreditam que
podem melhorar o mundo: os voluntários, os praticantes da filantropia, os que
ouvem mais e falam menos, os empreendedores e aqueles que simplesmente ajudam,
por vocação, porque foi a educação que receberam, porque
experimentaram fazer o bem e gostaram, pois vicia, um vício bom e saudável.
Este é o único vício de que precisamos meus caros, grande abraço.
Fonte: Portal homem por Rodrigo Lima