Não é o cinema acompanhado, as noites de sábado com programa
garantido, o sexo quando der vontade. Não é ter alguém pra chamar de seu, não
são as mensagens de bom dia, muito menos alguém pra quem comprar presente no
Dia dos Namorados. Suspeito que o que as pessoas tanto busquem quando dizem que
estão procurando um amor é a tão querida intimidade. Aquela coisa de querer
dividir vontades, revelar segredos, contar coisas que você não contaria pra qualquer
um. Intimidade é abrir a porta para o seu íntimo e deixar que o outro mergulhe
nessas águas profundas e, muitas vezes, turvas.
O fato é que não é possível escolher os íntimos – eles
simplesmente são.
Tem gente que força intimidade com os outros, como aquela
pessoa que twitta o café da manhã diariamente, avisa quando vai tomar banho e –
por que não? – posta uma foto de toalha pra a web ver. A intimidade forçada
tenta ser aquela mesma, tão natural, que deixa a gente à vontade pra sair do
banho de toalha na frente da prima. Mas ela jamais será. Acontece o mesmo com
pessoas que se intitulam amigos íntimos de todo mundo mas que, na hora em que
bate aquele desespero na madrugada, não têm ninguém para quem ligar. Afinal, só
os íntimos ligam na madrugada para desabafar as dores do mundo em meio ao sono
alheio.
Há também uma confusão quando o assunto é sexo – muita gente
diz que sexo sem amor não é bom quando, na verdade, estavam se referindo à
intimidade. Aquela mesmo que surge sem escolher a vítima. E então,
reformulamos: sexo sem intimidade não é bom. Fica aquela coisa robótica, regada
por uma ansiedade em agradar, por um esforço em encaixar o que não se encaixa.
Mesmo com os corpos colados, existe um muro entre os dois que impede a entrega.
No desespero de não saber o que fazer diante do artificial, os dois encenam uma
cena patética, como o ator de teatro que sobre no palco pela primeira vez e,
independente dos seus esforços, não convence ninguém de que está à vontade. Era
pra todo mundo se emocionar com a história, mas ela foi, na verdade, apenas e
somente, uma dramatização.
Intimidade, inclusive, não depende de tempo. Você pode ser
casado há 10 anos e não ser íntimo do outro. Agora, quando a intimidade existe,
ela não deixa dúvidas. Impossível mascará-la.
Ela chega assim, sem pedir permissão e te faz abrir a vida para aquele
estranho que conheceu há menos de duas horas – ele então passa, a saber, de
coisas que nem aquele colega de anos imagina. Ela faz os lábios se fundirem em
um só e faz com que eles dancem em movimentos sincronizados, como o time que
treinou há meses. Ela guia as mãos como se possuíssem GPS para a felicidade,
solta as palavras como se não existissem tabus, libera o sorriso sincero que
dispensa ensaios, torna a companhia mais importante que o programa e vangloria
a conversa independente do conteúdo.
Na vida, precisamos mesmo de semelhantes, de cúmplices, de
íntimos. Aqueles que te permitem jogar as máscaras, que gostam de você mesmo
quando se é autêntica no limite. Aqueles que te fazem entender o real
significado se ser escutada, que te explicam na prática que um olhar vale mais
que mil palavras e que te lembram qual o verdadeiro sentido da palavra
aconchego. Intimidade, inclusive, nos faz repensar no nosso vocabulário –
quando se encontra alguém que lhe é íntimo, palavras como penetração, por exemplo,
assumem outro significado – porque a sexual, pode-se fazer com quem quiser.
Agora, penetrar no seu ser é exclusividade de poucos.
Sorte daqueles que encontram os seus íntimos nas tantas ruas
da vida.
Fonte: casalsemvergonha