É difícil não cair em clichês ao discorrer sobre um tema tão
recorrente: o preconceito que inacreditavelmente ainda existe quanto à presença
masculina no mundo dançante (leia-se: “dançar é coisa de boiola”). Pois o texto
que inspirou essa reportagem afirma justamente o contrário: dançar a dois faz o
homem mais homem.
É verdade!Repito em coro com várias mulheres nas baladas por aí. A dança agrega tantos aspectos além dos passos e da técnica, que só mesmo sendo muito homem para dançar. O professor e coreógrafo Jaime Arôxa repete há anos uma mesma frase a cada turma que se inicia em sua escola: “Há duas datas muito importantes na vida de uma pessoa. Uma é o dia em que ela nasce a outra é o dia em que ela aprende a dançar.” Aliás, aprende-se muito mais do que dança nas salas de aula. O homem aprende a ser gentil; a fazer a parte dele sem esquecer que existe uma dama em seus braços; ele eleva sua auto-estima, desenvolve sua sensualidade e seu poder de sedução. Resultado: torna-se um homem muito mais interessante.
Os homens também aprendem a ser mais confiantes. Digo isso
em dois aspectos. Ele aprende a confiar mais em si mesmo, a atravessar o salão
e tirar aquela mulher deslumbrante pra dançar sem medo de levar um não. E
depois, aprende a passar essa confiança pra ela, executando os passos com
convicção, conduzindo com firmeza. Não há mulher que resista a isso.
A dança encurta algumas etapas no processo de aproximação
entre um homem e uma mulher.
Alguns “pseudo-machões” passam a noite inteira em boates
gastando toda a sua lábia em tentativas, muitas vezes frustradas, de
aproximação. Enquanto que mulheres passam a noite inteira trocando olhares com
aquele “gato”, e só. Do outro lado da cidade, em uma balada animadíssima de
dança de salão, um cavalheiro estende a mão, insinuando um convite a dançar e
puf!Como num passe de mágica, a mulher está em seus braços. É um envolvimento
consentido. Os dois se tocam, se olham, se abraçam, dançam! E nem precisa
passar disso.
Conversando com um aluno de dança de salão de uma escola do
Rio de Janeiro, ouvi que, hoje, com 32 anos, o que ele mais queria é ter
começado a aprender a dançar com uns 17. Mas infelizmente, os rapazes de 17 só
se dão conta disso depois que passaram dos 30... Com raríssimas exceções.
Perceber-se um ser dançante é uma das descobertas mais urgentes que os homens
deveriam fazer. A convivência com um público adulto, em sua maior parte, e a
proximidade constante com as mulheres ajudam os homens a amadurecerem. Mais que
isso: os ajuda a desenvolver sua sensibilidade, educação e respeito. E as
mulheres, por sua vez, resgatam sua essência feminina: cheias de delicadeza,
charme e entrega.
A dança enfatiza a polaridade masculino/feminino e resgata o
que há de mais primitivo nos homens e nas mulheres.
Gustavo Gitti, aluno de dança de salão de uma escola de São
Paulo, escreve em seu blog que “Nas aulas, os homens são ensinados a conduzir,
a ter pegada, a serem... homens. E as mulheres são instruídas a serem conduzidas,
a se deixarem levar, se entregarem e serem... mulheres.”. Ele conta ainda sobre
como se sentia quando ainda não dançava e saía com sua ex-namorada, forrozeira
de carteirinha: “Eu ficava nervoso sempre que tocava forró e eu era confrontado
com minha impotência e incapacidade de levar minha parceira a um orgasmo
dançante, público, só com giros, conduções e pegadas. Impedi-la de dançar com
outro era uma opção covarde, deixá-la dançar sob meus olhos era sofrimento
demais... Enfim, não me restou outra alternativa a não ser virar homem e me
tornar capaz de oferecer aquilo que uma mulher tanto deseja: se sentir mulher.
Às vezes, um homem só faz isso na cama. Nestes casos, a dança de salão, não
tenho dúvidas, ajuda a manter essa postura na vida, em cada gesto, em cada
olhar.”
Concordo com Gustavo: o que a gente aprende na dança são
lições que devemos aplicar em todos os aspectos da nossa vida, desde a
preocupação com a higiene pessoal e apresentação até cavalheirismo e
cordialidade.
Como diria a escritora gaúcha Martha Medeiros: “Dançar é tão
bom que nem precisava servir pra nada, mas serve”.
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Estudo diz que movimentos ritmados são os que mais
atraem.
As mulheres gostam de ver os homens dançar e os melhores
dançarinos são os que mais têm para oferecer ao sexo feminino. Pelo menos é o
que diz um estudo norte-americano, que conclui ainda que as mulheres não
conseguem resistir a dois passos de dança quando esta é praticada por
elementos do sexo oposto com corpos simétricos.
A equipe de cientistas, liderada por William Brown,
da Universidade de Rutgers, New Jersey, filmou os movimentos dançantes de
mais de 180 jovens, que depois converteu em figuras animadas por computador.
E não tem dúvidas: os mais ritmados eram os que tinham os corpos mais
simétricos, desde orelhas niveladas, até tornozelos do mesmo tamanho. E, ao
mesmo tempo, eram ainda aqueles que mais agradavam às mulheres.
As conclusões deste trabalho permitem perceber
porque é que a dança é, tantas vezes, parte integrante dos rituais de
acasalamento. E sugere ainda que os homens com movimentos mais ritmados são
os mais sedutores.
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Fonte: Juliana Prestes, Portaisws.com