Tribulus terrestris: a verdade


Anabolizante natural? Viagra natural? Repositor hormonal? Sem efeitos colaterais?Quem lê a respeito dessa planta chega à conclusão que é algo revolucionário. Uma planta que promete tanto, a um preço baixo e que pode ser encontrada (sem necessitar receita médica) em qualquer casa de suplementos e produtos naturais, internet e farmácias. É fantástico! Será que ele realmente cumpre o que promete? Será que ele realmente é bom? Será o fim dos esteróides anabolizantes?

Entre alguns dos benefícios primários prometidos pelo Tribulus Terrestris podemos citar tônico sexual (daí o nome de Viagra natural) e estimulador de produção natural de testosterona.

Então vamos às considerações sobre testosterona e performance e depois vamos a alguns dados sobre o Tribulus e o que tem sido estudado mais recentemente....

Primeiro,

Testosterona não faz mágica. Nos consultórios o que se vê são pacientes com testosterona no terço inferior do "range" da normalidade que tem um desempenho superior a pacientes com níveis de testosterona no 1/3 superior do intervalo de normalidade. É impossível não se fazer algumas correlações comparando indivíduos diferentes, depois de ver algumas centenas de padrões de exames e observar seus respectivos donos.

Ainda sobre a testosterona, o que podemos dizer é que, pelo fato de estimular a amígdala e a ponte - estruturas arcaicas do sistema nervoso central que cuidam de atributos como a agressividade - estes pacientes acabam tendo menos "paciência” de levar um treino volumoso a cabo, bem como de suportar a sensação dolorosa provocada pela fadiga nas séries de alta repetição para realização de pump (recrutamento vascular periférico localizado). Fora os outros efeitos sobre o humor, e humor pessoal, é uma coisa delicada, em que delicadas mudanças fazem a diferença entre a falta de disposição/perda do prazer de treinar e a sensação boa de estar indo à sala de pesos para se fazer algo de que gosta. Fiquem muito atentos...

Testosterona alta também leva a estrogênios altos, ou seja, hormônios são equilibrados dinamicamente, sendo impossível de se ter exclusivamente a testosterona elevada. No caso de pacientes que vão aos consultórios depois de terem usado grandes quantidades de testosterona sem o resultado esperado e com uma série de complicações o que observamos é que apesar de terem usado antiestrogênicos, bloqueadores de receptores e inibidores de aromatase, o desequilíbrio se torna maior ainda, acumulando estradiol ou estrona mas nunca bloqueando os dois estrogênios ao mesmo tempo... Assim: não se apegue a leituras de bula. Quando você tem acesso a uma medicação, ela está balanceada para uma situação patológica, portanto, usá-la é aceitar o alto risco de se desequilibrar completamente e não conseguir o efeito desejado independente do que está escrito.

O uso de testosterona ainda está associado a um aumento alto da resistência periférica à insulina, fato que faz com que a própria insulina torne-se uma competidora do IGF1 em seus receptores específicos por estes aceitarem ambos os peptídeos devido a estruturas terciárias semelhantes causando um bloqueio na síntese protéica muscular, e com o devido tempo, uma estabilização do ganho de massa seca o que me faz lembrá-los que, este mecanismo é tão delicado que inclusive dietas de alto teor de carboidrato sem a devida correção de quantidades protéicas (que em geral variam entre 2 e 4g proteína por kg de peso corporal - mas que se alteram devido ao perfil físico do paciente - em obesos é preferível dosar pela quantidade de massa magra...) fazem com que a aquisição de massa seca seja um processo moroso e o ganho de gordura um processo expansivo..

Muitos percalços no caminho de quem deseja mais músculos, não é mesmo? No final de contas, mesmo as pessoas com os mais modestos objetivos físicos acabam enfrentando a mesma batalha pelos detalhes como os atletas de primeira linha - mais que isso - como estes detalhes são em gramas de alimento por dia divididos em 6 a 11 refeições diárias, a sensação que temos é que cada dia é uma prova a ser vencida, tal qual um atleta de qualquer modalidade que disputa medalhas por centésimos de segundo. A diferença é que o sujeito da academia disputa contra si próprio em vez de disputar com outros... (o que talvez torne o processo ainda mais difícil).

Bom, e o que sabemos do tríbulos então?

O tribulus terrestris, ou abre-os-olhos ou ainda sua forma abreviada Abrolhos, é uma erva daninha da família das Zygophilaceae que é usada na Europa desde os tempo s da Grécia antiga, quando era consumida como um laxante leve ou um tônico geral, até que um laboratório químico farmacêutico em Sofia, na Bulgária, decidiu conduzir estudos sob suas hipotéticas funções positivas na libido e fertilidade a partir do uso na China antiga onde seus usos eram para tratar problemas no fígado, doenças cardiovasculares, dores de cabeça e exaustão nervosa.

Na odisséia científica que os pesquisadores travaram com o Tribulus t. houve uma primeira fase onde os estudos sugeriram que suas saponinas ricas em furostanos (algo como esteróide vegetal) chegaram a concluir que ele aumentava níveis de LH e, por conseguinte a testosterona. Outros chegaram a apontar o Tribulus como um precursor de testosterona, mas com o avanço dos métodos de analise e pesquisas metodologicamente mais rigorosas observou-se que esta ação hormonal não acontecia.

Os estudos mais recentes a este respeito relatam que não há aumento de nenhum hormônio por ação do Tribulus.

Mas nem tudo estava perdido...

Os pesquisadores chineses, continuaram a pesquisar sobre o assunto e começaram a elucidar papéis secundários do Tribulus e realmente descobriram que os principais efeitos das saponinas deste são:

1. Diminuidor da hepatotoxicidade induzida por paracetamol;
2. Fator de melhora importante em eventos cardiovasculares a  ponto de ser indicado como parte do tratamento sendo um importante diminuidor de angina pectoris e recuperador muscular cardíaco no infarto agudo do miocárdio;
3. Terapia auxiliar para diminuição de hemólise - ele diminui valores de bilirrubinas - o que pode também estar relacionado com melhora da função hepática;
4. Diminuição da incidência de cálculos renais e parte importante do tratamento para nefrolitíase;
5. Como antifúngico e adjuvante de tratamentos fungicidas associado ao fluconazol;
6. E por último, pasmem vocês, em estudos multicêntricos na Bulgária, China e Alemanha o Tribulus tem sido responsável por induzir a apoptose (morte celular) de linhagens de uma série de tipos de câncer.

Surpreendente...

Quem diria que uma erva daninha que em algum momento deixou um grego um pouco mais "bem disposto" poderia ter tanta empregabilidade? Ou ainda que uma cultura de 5 mil anos já conhecia em seus tempos remotos tais propriedades?

Nos esportes o Tribulus foi pesquisado também e o que foi descoberto é controverto, TAMBÉM.

O que é consenso é que existe um ganho inicial de capacidade física que se estabiliza sem maiores desenvolvimentos, mas apenas caso tenha seu uso prolongado por mais de 3 semanas - antes disso nada, nem mesmo nenhum tipo de mudança na composição corporal dos atletas.

Outro conseso é sobre doping. O uso de Tribulus terrestris NÃO muda a relação Testosterona/Epitestosterona dos indivíduos que o utilizam, portanto não representa doping positivo caso o atleta faça uso do extrato desta planta.

Na rotina do trabalho:

O tribulus de fato não modifica padrões de exame, mas promove melhora da disposição geral e da disposição para o treino. Ainda, é capaz de melhorar a resistência a fadiga durante treinos de alto volume. O inconveniente é que normalmente as doses preconizadas podem ser desvantajosas pelo grande número de cápsulas que determinam e pelas 3 a 4 dosagens que acabam sendo necessárias para atingir estes níveis de resultados. Devido ao sabor, é inviável fazer preparações em saches para serem diluídos. A dica final fica sobre as formas de obtenção: as preparações com grades farmacêuticos são capazes de oferecer quantidades de saponinas (ativos) superiores dos produtos industrializados, além da maior segurança, devido à grande frequência de associações que são submetidas nos compostos, principalmente importados. 

Há vantagens sobre o uso de estimulantes, nítidas. Principalmente porque não recomendo o uso de estimulantes devido aos efeitos catabolizantes que estes acabam proporcionando e que detectamos pela ausência de variação positiva da composição corporal e invariavelmente aumentos nos níveis de uréia que sinalizam perda de massa muscular às custas da gliconeogênese (transformação de proteínas em energia) que provocam.

Fonte: Superperformance, Musculação Total