O profissional do contra é aquele que é, basicamente,
contra. Tudo. Todos. Sempre. Ele não perde sequer uma oportunidade de
contrariar qualquer ideia ou ideal, postura ou proposta, raciocínio ou
descoberta. Se bem que, seu alimento predileto é a opinião. Onde houver alguém
com uma opinião, a dele será... Contra.
O problema é que sua obrigação de ser contrário faz com que
ele não tenha pontos de vista fixos, ou lógicos. Ser do contra exige...
Flexibilidade! Por isso o Profissional do Contra é um ser amorfo, entre uma
geleca e um barbapapa.
É fácil reconhecer um PDC. Durante a discussão de um assunto
em alta, como uma notícia que o mundo inteiro está comentando, ele é o primeiro
a dizer:
-"Esse assunto já deu!" ou, mais
modernamente "isso é tããão two hours ago!”.
Eventualmente, o PDC escorrega e manda um comentário
totalmente datado, do tempo do vinil, com o clichê favorito para essas
ocasiões, quando ele grita:
-"Vamos virar o disco!”.
Ele é a voz que grita que o projeto não vai dar certo, o que
nunca adere a nenhum movimento, não canta parabéns na festinha de aniversário,
não participa da vaquinha pra tia do cafezinho. É a pessoa que torce contra o
Brasil em Copa do Mundo, que quer que o mocinho e a mocinha se separem no final
do filme, que chova no dia do show só porque ele não vai. Ele é o cara que
adora quando o feriado cai numa quarta-feira pra ninguém emendar.
O ser do contra adora julgar a corrente pelo elo mais fraco,
o todo pelo pedaço ruim. São as pessoas que dizem "você já foi
melhor!", "bom era antes!", "esse lugar não é mais o
mesmo!". Tudo é motivo pra reclamar. Tudo.
Quando ouve uma piada nova ele mente dizendo que já
conhecia. E, claro, quando ouve uma piada que já conhece de fato ele ó cara que
estraga antecipando o fim, para evitar que alguém a sua volta tenha sequer um
minuto de alegria ou felicidade. Evidentemente ele é contra as duas.
O PDC é contra o amor, o poesia, a ecologia, a simpatia,
contra todo o lado quente do arco-íris. Aqui, uma ressalva de gênero: muitos
profissionais do contra são mulheres. Por alguma razão misteriosa, talvez
hormonal, uma legião de mulheres tem aderido ao esporte de
contrariar. Pelo menos a coisa é democrática.
Nesses muitos anos de trabalho e convívio com as pessoas,
dentro ou fora do universo da comunicação, já encontrei muita gente do contra.
Muita. Até hoje encontro várias no mundo online, em redes sociais, em sistemas
de comentários, em salas de chat. E, em comum, todas tem muita energia. Se
alguém conseguisse converter a energia do povo do contra em eletricidade, nunca
mais faltaria luz.
Não sei qual a influência genética, mas tem gente que parece
já ter nascido do contra. Em alguns casos, atravessam uma vida contrariando até
a própria natureza. Sim, porque, o natural é que a gente nasça, cresça,
envelheça e no meio disso tudo, se divirta muito. E, se der tempo, claro,
também podemos deixar uma obra, um legado e muitos descendentes. Por que então
o Profissional do Contra está sempre emburrado, enfezado, mal-humorado e
agressivo?
Porque ele não sabe brincar. Não sabe enturmar. Não sabe ser
feliz. Não consegue. Não consegue sentir prazer, de nenhuma forma. Ele nem
entende por que tanta gente QUER ter prazer. Pra ele só existe um prazer. Ser
do contra.
O profissional do contra se acha forte por isso, se acha o
máximo. Coitado. Não percebe que somos nós, as pessoas, que o pautamos. Ele
depende de nós para se posicionar. Ele tem que esperar nossa opinião para poder
ser do contra. Ou seja, ele sempre vem depois. É o atrasado, o dependente.
Se você conhece alguém assim, que vive pra ser do contra,
não fique com ódio. Lembre a Filó e pense apenas... Ô coitado!
Fonte: Querido Leitor por Rosana Hermann R7 notícias