O rapaz de 17 anos que se apresentou à polícia
como autor do disparo do sinalizador que matou Kevin Espada parecia na
entrevista ao “Fantástico”, mais preocupado em salvar a pele dos 12
brasileiros detidos na Bolívia do que com qualquer outra coisa. Se foi ele
o autor do disparo ou não, não sei, embora seja “conveniente” o fato de ser
menor de idade.
O que acho é que faltam muitas coisas a esclarecer e que
seguem no ar depois das declarações do rapaz.
Não perguntaram, mas continuo curioso por saber quem bancou
a viagem dele à Bolívia. E a viagem dos demais, inclusive dos 12 detidos, um
dos quais aparece como um dos responsáveis pelas finanças da Gaviões. Tampouco
entendi como se pode comprar na Rua 25 de Março, em São Paulo, sinalizadores
marítimos. Que loja vende tal artefato, um artefato naval que pode matar e
matou em Oruro? Como mais ninguém sabia de nada, se 2 dos 12 detidos na Bolívia
estavam com sinalizadores semelhantes ao que o garoto diz ter usado? Quer dizer
que no intervalo do jogo ele foi perguntar para a polícia se alguém tinha se
ferido do outro lado e a resposta foi que estava tudo bem? Só soube da morte do
boliviano mais tarde, quando já estava no ônibus? Há muitas, muitas coisas
obscuras.
Seguimos sem saber quem foi o autor do disparo e parece que
ninguém se importa com o que ocorreu com Kevin. Mesmo na hora em que pediu
desculpas à família do garoto de 14 anos, incentivado por uma pergunta do
repórter Valmir Salaro, fez questão de incluir pedido de desculpas aos
familiares dos 12 corintianos presos em Oruro, que segundo o jovem não têm
relação nenhuma com o acontecido.
Talvez, como muita coisa no Brasil, a história acabe em
pizza. Ou em medidas socioeducativas.
Menor do sinalizador
se apresenta e assume a culpa em depoimento
São Paulo - O adolescente de 17 anos que afirma ter
disparado o sinalizador que causou a morte de um menino na partida entre
Corinthians e San José, na Bolívia, na semana passada, depôs ontem por quase
três horas na Vara da Infância e da Juventude de Guarulhos, na Grande São
Paulo.
Ele estava acompanhado do advogado e não falou com os
jornalistas. A defesa do adolescente acredita que ele irá responder por
homicídio culposo, quando não há intenção de matar. O disparo do sinalizador
durante a partida na Bolívia atingiu no olho um torcedor boliviano do clube San
José, de 14 anos, que morreu pouco depois de ser socorrido, em 20 de fevereiro.
Em entrevista ontem, o advogado Ricardo Cabral, o mesmo que
representa a Gaviões da Fiel, disse que o depoimento do menor deverá ser
encaminhado para autoridades bolivianas. A expectativa é que o jovem responda
por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, e que permaneça em
liberdade, no Brasil.
Ao ser questionado se outros torcedores possuíam
sinalizadores semelhantes ao que causou o incidente, o advogado afirmou que
todos os sinalizadores encontrados na mochila apreendida pela polícia boliviana
pertenciam ao adolescente.
"No momento em que foi disparado o sinalizador, ele (o
menor) foi hostilizado pela própria torcida do Corinthians Então ele
abandonou a mochila que portava na arquibancada, se afastou e retornou em outro
ponto da arquibancada", disse o advogado. Nesse intervalo, segundo Cabral,
a polícia foi ao local, apreendeu a mochila com os sinalizadores e 12
torcedores foram detidos "aleatoriamente".
Ao Fantástico, o jovem disse ter comprado o sinalizador
naval na Rua 25 de Março, no Centro de São Paulo. “Quis fazer uma festa para o
Corinthians. Eu amo o Corinthians”, disse.
Ele disse também que foi orientado por integrantes da
Gaviões da Fiel a não procurar a polícia na Bolívia. "O pessoal me
recomendou: 'não, é melhor não se entregar porque nós estamos na Bolívia, você
veio com a gente, você é nossa responsabilidade'".
Ele também negou que tenha assumido ter cometido o crime
para proteger os colegas de torcida. “Eu só quero assumir meu erro. Porque não
é certo as pessoas pagarem por uma coisa que não fizeram. Se eu estivesse no
lugar delas, também não iria querer pagar com uma coisa que eu não fiz, ficar
preso injustamente”, declarou.
O incidente fez a Conmebol sancionar o Corinthians, atual
campeão da Libertadores da América, a disputar suas próximas partidas locais
sem torcida e proibir a venda de ingressos pelo clube a seus torcedores em suas
partidas internacionais.
Repercussão na
Bolívia
A confissão do menor não diz respeito à Justiça da Bolívia e
não muda nada em relação aos procedimentos já adotados, inclusive quanto ao
processo judicial quanto aos 12 torcedores presos ainda no estádio. A
interpretação é da delegada Abigail Saba, que cuida das investigações em Oruro.
Dez deles foram indiciados como cúmplices e outros dois como prováveis autores
do disparo que vitimou o torcedor local.
“Como o jovem saiu da Bolívia? Com que ajuda? Há várias
interrogações que têm de ser esclarecidas. As autoridades bolivianas não têm de
levar em conta provas produzidas em outro lugar. Quem garante que este garoto
não foi pressionado?”, disse ontem a policial.
No Brasil
O adolescente que afirma ter disparado o sinalizador poderá
cumprir três anos de medida sócio educativa na Fundação Casa, em São Paulo,
caso seja comprovada a autoria do crime. A justiça brasileira tem até 90 dias
para finalizar o inquérito. Até a conclusão, o garoto permanece em liberdade.
Sinalizador que matou garoto tem dez vezes mais potência
do que os usuais
Torcidas costumam
adotar os artefatos manuais, que não disparam. O projétil da tragédia é usado
em navios e conta com impulso de até 300m. Kevin estava na
torcida do time local e teve o rosto perfurado pelo projétil, que é usado
normalmente em navios. Não é normal torcedores utilizarem em estádios este tipo
de sinalizador, bem mais potente do que os manuais, que não disparam, apenas
emitem luz e fumaça.
O sinalizador de
navios possui um disparador, que impulsiona um cilindro parecido com o manual,
mas que ganha velocidade e força por conta do próprio disparador e é dez vezes
mais potente. Este modelo possui ainda um dispositivo chamado paraquedas, que
serve para retardar a velocidade de queda do objeto. No caso de Kevin, o
cilindro disparado tinha 20 cm de comprimento e 2,5 cm de diâmetro e entrou
pela cavidade do olho direito do garoto, atravessando o crânio e gerando a
perda de massa encefálica. Kevin morreu na hora.
Fonte: Lance!Net,
Umuarama Ilustrado, Globo Esporte