Na década de 90, uma empresa americana de marketing de rede
aportou no Brasil.
Esta empresa era a Amway, que produzia e vendia um
enorme portfólio de produtos.
Consistia basicamente em um esquema de vendedores em
pirâmide, onde se comprava um pacote básico, e também se ganhava em cima dos
vendedores que se ligavam a você.
Muitos amigos entraram nessa, e quando viam, tudo em sua
casa era da Amway.
Tudo era caro e aí estava a razão do negócio. Ganhava-se em
cima da margem de lucro do produto, que era exorbitante. Para quem estava na
base da pirâmide montada, o prejuízo era enorme, sem perceber.
Como não se consegue enganar todo mundo o tempo todo, a
pessoa percebia que não tinha sentido pagar R$ 20,00 no detergente Amway,
quando o Limpol saía por R$ 1,00.
A Amway praticamente sumiu do mercado, mas sua ideia não. Na
verdade a empresa tenta se reestruturar no mercado, e hoje fatura míseros R$ 30
milhões por ano. Menos que uma loja grande de shopping.
Pelo menos a Amway foi apenas um negócio mal sucedido, e não
deixou um rastro de fraudes pelo caminho.
Após este período, outros esquemas mirabolantes de ganho sem
trabalhar muito apareceram.
Desde uma empresa chamada Zeek Rewards, até o famoso
Avestruz Master.
Para quem não se lembra, a Avestruz Master era um negócio
onde se investia em avestruzes com ganhos de 10% ao mês, durante o tempo de
vida da ave, que teria sua carne vendida para o mercado externo.
Como muita gente começou a investir, a oferta de avestruzes
disparou em poucos meses, diminuindo seu preço no mercado. E claro que os que
montaram o esquema sabiam disso.
O esquema é o mesmo…SEMPRE…Monta-se uma pirâmide, onde as
pessoas remuneram de alguma forma a entrada (sob a forma de investimento), e
depois remunera-se de maneira desproporcional.
Enquanto durar a entrada de pessoas está ótimo. Mas uma hora
isso acaba.
Mas como tudo se renova, inventaram um novo termo pomposo
para a pirâmide, chamado “Marketing de Nível”.
Antes de continuar é bom explicar uma das maiores fraudes da
história, conhecida como Esquema de Ponzi.
Charles Ponzi era um imigrante italiano, que em 1920 montou
um esquema de remuneração de ativos absurdamente elevados. A pessoa chegava a
ganhar 50% em apenas 45 dias. Em poucos meses, milhares de pessoas colocaram
seu dinheiro neste esquema, sempre ganhando em cima dos que entravam.
Charles Ponzi chegou a comprar um banco, mas seu esquema foi
descoberto em pouco tempo.
Este esquema ficou conhecido como Pirâmide de Ponzi.
Charles Ponzi chegou a ser preso nos EUA, e se mudou para o
Rio de Janeiro, onde morreu pobre. Já tinha praticado este golpe anteriormente.
Voltando ao nosso texto, a diferença básica destas
“empresas” de marketing de rede (ou multinível) para uma Pirâmide de Ponzi, é
que normalmente um produto é apresentado como carro-chefe do negócio.
A Amway vendia desde produtos de limpeza pessoal até
nutricionais.
Daí surge a nova febre do famoso Marketing Multinível.
Uma empresa de ligações em VOIP, chamada Telexfree, aparece
prometendo remunerar para que a patuleia apenas anuncie o produto da empresa.
Os ganhos são para nada, apenas anunciar a Telexfree.
Mas se o negócio de VOIP ainda não pegou de verdade (o
faturamento ainda não é uma maravilha), como é que uma pessoa consegue ganhar,
conforme prometido pela empresa, US$ 20 por semana, anunciando 7 vezes por
semana em redes ou afins?
Além disso, a cada pessoa que você leva para o esquema de
divulgação, você é bonificado até se tornar o que eles chamam de “Team
Builder”.
Com isso você vai propagandeando menos, e sendo melhor
remunerado.
Alguns dizem que estão ganhando milhares de dólares por mês,
apenas por terem montado uma equipe.
Mas voltando à pergunta, como se ganha dinheiro se o negócio
de VOIP tem sido ruim?
Aí está o pulo do gato.
Para entrar no negócio, você precisa investir. Isto mesmo,
você precisa pagar para começar a trabalhar.
E não é pouco.
Para você começar a anunciar, você coloca US$ 299,00 no
plano ADCentral ou ainda US$ 1.375,00 no ADCentral Family.
O esquema pode ser percebido na investigação feita pelo site O Segredo do Dinheiro. Lá percebe-se que a
metodologia é a mesma das anteriores.
Algum “empreendedor” aparece com uma imagem de bem-sucedido
(terno alinhado, barba bem feita, cabelo aprumado e corpo em forma), apesar de
ninguém ter notícia de seus empreendimentos antes. Esta figura pode ser
facilmente percebida quando se tem como livro de cabeceira o clássico de Dale
Carnegie, “Como Fazer Amigos & Influenciar Pessoas). O cidadão da foto é
James Merrill, o dono da Telexfree (veja o carrão do cidadão).
Por trás desta aparência, a proposta milenar de ganho fácil,
sem sair muito de casa.
No caso da Telexfree, o negócio é mais sutil, já que os
ganhos ainda poderão ocorrer quando o esquema naufragar, já que a porta de
entrada em dinheiro é mais alta.
Mas assim como os participantes do esquema Ponzi, ou mesmo
os investidores de pirâmides semelhantes, alguns estão ganhando dinheiro neste
momento. Não faltarão exemplos de pessoas que dizem que já recuperaram o que
investiram e alguns poucos que estão ficando milionários.
O esquema se sustenta desta forma.
Mas a raiz do problema é uma só: nenhum produto ou serviço
(no caso o VOIP) remunera a ponto de sustentar um esquema desses.
É preciso saber que se desse tanto dinheiro rapidamente o
mercado se adaptaria, e milhares de empresas entrariam no negócio. Como
dizia Einstein, “o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no
dicionário”.
Como sempre, isto é apenas uma rede de mentiras financeiras,
que inevitavelmente acabará em prejuízo para os que entraram por último. Estes
investirão dinheiro, e nunca irão recuperar.
E o que fazer se você já pagou a adesão e está no esquema
Telexfree?
Neste caso, o melhor a fazer é seguir o conselho de nossa
querida Ministra Marta Suplicy: relaxar e gozar.
Continue colocando suas
propagandas, tirando seu dinheiro ao máximo e não incentive seus amigos a
entrarem nesta furada (pois ficarão furiosos com você quando a pirâmide
desmoronar).
Aliás, os que estão tentando convencer outros talvez não
saibam, mas muitos colegas já estão evitando seus contatos. Além do mico
descomunal, a pessoa normalmente perde a noção e se torna um chato de galocha,
acreditando realmente que encontraram uma fórmula mágica para enriquecer sem
trabalhar.
Ao fim desta rede, resta saber quem será o pato desta
história.
Ou será o avestruz master da história?
Fonte: Acerto
de contas,por Pierre Lucena