Engenharia genética e modificação genética são termos para o
processo de manipulação dos genes em um organismo, geralmente fora de seu
processo reprodutivo normal. Um desses exemplos são os gatos que brilham
no escuro – gatos geneticamente modificados com pigmentação fluorescente
em sua pele, que faz com que brilhem sob luz UV.
Este é apenas um caso, basicamente inofensivo, desta
tecnologia. Para melhor ou para pior, parece que a engenharia genética está
aqui para ficar, o que levanta questões importantes, como quando vamos saber se
fomos longe demais? Qual é a linha entre o progresso científico e a mudança
irreversível do DNA de uma forma de vida? Veja 10 casos insanos de engenharia
genética:
Cabras aranhas
A seda da aranha tem milhões de usos, e nós encontramos mais
a cada dia. Devido à sua incrível força em relação ao seu tamanho, tem sido
pesquisada para uso em coletes à prova de balas, tendões artificiais,
ligaduras, chips de computador e até mesmo cabos de fibra óptica. Mas a
colheita de seda suficiente para tais usos requer dezenas de milhares de
aranhas e muito tempo de espera, para não mencionar o fato de que elas tendem a
matar umas as outras se colocadas juntas, de modo que é muito difícil cultivá-las
como formigas ou abelhas.
Sendo assim, os pesquisadores estão se voltando para as
cabras, o único animal do mundo que poderia melhorar por ter mais DNA de
aranha. Randy Lewis, da Universidade de Wyoming (EUA), isolou os genes que
produzem o tipo mais forte de seda, usada quando as aranhas ancoram suas teias
(a maioria das aranhas produzem seis tipos diferentes de seda), e os misturou
com os genes usados por cabras para a produção de leite. Três dos sete
cabritinhos da cabra original do experimento mantiveram o gene de produção de
seda. Tudo o que resta fazer agora é tirar leite das cabras e filtrar a seda da
aranha.
Rato que canta
Na maioria das vezes, os cientistas fazem experimentos com
um propósito. Não é impossível, porém, que eles joguem um monte de genes em um
rato e esperem para ver o que acontece. Foi assim que surgiu o rato que
canta como um pássaro, pelo menos. Ele é parte do Evolved Mouse Project
(“Projeto Rato Evoluído”, em português), um projeto de pesquisa japonês com uma
abordagem bruta em engenharia genética: os cientistas modificam ratos, os deixam
livres para cruzar e anotam os resultados.
Ao verificar uma nova ninhada de ratos uma manhã, eles
descobriram que um dos bebês estava “cantando como um pássaro”. Animados, se
concentraram nele e agora tem mais de 100 ratos que podem cantar. Mais: os pesquisadores
descobriram que, quando ratos cresciam perto de outros que podiam “cantar”,
começavam a usar diferentes sons e tons, como uma espécie de dialeto que se
espalha pela população humana.
Super salmão
Este exemplo vai aparecer, provavelmente, em supermercados
dos EUA em breve: um salmão do Atlântico geneticamente modificado, projetado
para crescer duas vezes mais do que o salmão do Atlântico comum, e duas vezes
mais rápido também. Criado pela AquaBounty e apelidado de “salmão
AquaAdvantage”, ele tem duas alterações genéticas específicas: a primeira é um
gene do salmão-rei, que não é usado para alimentação tão amplamente quanto o
salmão do Atlântico, mas que cresce muito mais rápido em uma idade jovem; e a
segunda é um gene de peixe-carneiro europeu, um peixe que cresce continuamente
durante todo o ano, enquanto o salmão normalmente cresce apenas durante o
verão. O resultado é um super salmão, o primeiro animal geneticamente
modificado aprovado para consumo humano (a Administração de Drogas e Alimentos
dos EUA o aprovou em dezembro de 2012).
Bananas virais
Em 2007, uma equipe de pesquisadores da Índia criou uma cepa
de bananas que inocula pessoas contra a hepatite B. A equipe também testou com
sucesso cenouras, alface, batatas e tabaco alterados para levar a vacina, mas
chegou a conclusão de que as bananas são o sistema de transporte mais
confiável.
Para resumir a forma de trabalho das vacinas, uma versão
enfraquecida do vírus ou germe é injetada na pessoa. Não é forte o suficiente
para deixá-la doente, mas basta para iniciar a produção de anticorpos na
pessoa, protegendo-a caso o vírus real tente entrar no seu organismo.
O problema é que há muitas maneiras com que as vacinas podem
dar errado, de reações alérgicas a simplesmente não funcionar. Além disso, é
recomendável obter uma vacina contra a gripe, por exemplo, todos os anos, pois
muitos vírus se adaptam em resposta à vacinação, o que significa que novas
estirpes de bananas vacinadas teriam de ser desenvolvidas continuamente. Por
fim, há um problema moral: caso as pessoas não queiram ser vacinadas, essa é
uma maneira fácil de “enganá-las” a receberem a proteção, principalmente porque
alimentos transgênicos não são obrigados a serem rotulados.
Porcos amigos do meio
ambiente
O Enviropig é um porco geneticamente modificado para
absorver ácido fítico, o que por sua vez reduz a quantidade de resíduos de
fósforo produzidos pelos próprios animais. O objetivo é reduzir a poluição de
fósforo que vem se espalhando através de dejetos suínos no solo. O fósforo em
excesso no estrume do porco normal acumula-se no solo e se infiltra em fontes
de água nas proximidades, o que é um problema. Conforme o fósforo extra entra
na água, algas crescem a uma taxa maior, tomando todo o oxigênio do ambiente e,
basicamente, sufocando todos os peixes. Os porcos modificados não produzem
tanto fósforo. O projeto funcionou por 10 gerações de Enviropigs, mas ficou sem
financiamento em 2012, quando foi abortado.
Ovos remédios
Um dia, poderemos ser capazes de curar o câncer comendo mais
ovos. Mas não qualquer ovo: ovos de galinhas que foram modificadas com genes
humanos. A pesquisadora britânica Helen Sang desenvolveu galinhas infundidas
com DNA humano que contém proteínas que podem combater o câncer de pele. Quando
elas põem ovos, metade da proteína normal que faz as claras na verdade contém
proteínas de drogas usadas contra o câncer. Estes fármacos podem, em seguida,
serem isolados e administrados a pacientes. A ideia é que a fabricação de
medicamentos desta forma é mais barata e mais eficaz, sem a utilização de
dispendiosos biorreatores, que são o padrão da indústria hoje.
Existem muitos benefícios em potencial para este sistema,
mas algumas pessoas levantaram a questão de que as galinhas usadas para
produzir as drogas poderiam ser reclassificadas como “equipamento médico” em
vez de “animais”, o que permitiria que criadores burlassem as leis de direitos
dos animais.
Leite materno de vaca
Como se galinhas humanizadas não fosse suficientemente
estranho, cientistas da China já colocaram genes humanos em mais de 200 vacas
em uma tentativa de fazê-las produzir leite materno. E funcionou. De acordo com
a Ning Li, que está no comando da pesquisa, todas as 200 vacas já estão
produzindo leite idêntico ao leite produzido por uma mãe humana.
O método envolve a clonagem de genes humanos e a mistura
deles ao DNA de um embrião de vaca. O embrião é então implantado numa fêmea
vaca. O plano é desenvolver uma alternativa geneticamente modificada para
fórmulas de bebê que podem ser dadas a crianças, embora muitos estejam,
compreensivelmente, preocupados com a segurança de dar leite geneticamente
modificado para bebês.
Repolho venenoso
Androctonus australis é um dos escorpiões mais
perigosos do mundo. Em peso, seu veneno é tão tóxico quanto o de uma mamba
negra, e pode causar danos aos nossos tecidos bem como hemorragia, para não
mencionar morte. O repolho, por outro lado, é um vegetal que faz parte de sopas
e chucrutes.
Em 2002, pesquisadores da Faculdade de Ciências da Vida, em
Pequim (China), combinaram os dois e declararam o resultado seguro para o
consumo humano. Especificamente, eles isolaram uma toxina do veneno do
escorpião e modificaram o genoma do repolho, de modo que a produzisse. Por que
eles querem desenvolver um repolho venenoso? Supostamente, a toxina que eles
usaram, AAIT, só é eficaz contra insetos. Em outras palavras, o repolho já
possui seu próprio pesticida, e caso uma lagarta tente comê-lo, por exemplo,
vai imediatamente paralisar e ter espasmos tão fortes que morrerá das
convulsões.
O que é preocupante é que um organismo geneticamente
modificado pode se alterar a cada geração. Se o repolho já possui um veneno
altamente tóxico, quanto tempo levaria para seus genes se transformassem em
algo que é realmente tóxico para os seres humanos?
Órgãos humanos em
porcos
Várias equipes de cientistas independentes começaram a
cruzar porcos com órgãos adequados para transplante em humanos. Xenotransplante,
o transplante de órgãos entre espécies, tem sido um problema em transplantes
entre porcos e humanos por causa de uma enzima específica que os porcos
produzem e os humanos rejeitam.
Randall Prather, um pesquisador da Universidade de Missouri
(EUA), clonou quatro leitões que já não têm o gene que produz a enzima. Uma
empresa escocesa – a mesma responsável pela ovelha Dolly – também já foi capaz
de clonar cinco porcos que não têm o mesmo gene. É muito possível que, no
futuro próximo, porcos transgênicos como estes sejam cultivados como fábricas
de órgãos. Outra possibilidade é que órgãos humanos reais sejam cultivados
dentro de porcos. A pesquisa nessa área ainda é especulativa, embora um
pâncreas de rato já tenha sido cultivado dentro de um camundongo.
Super soldados
DARPA, a agência de defesa dos EUA, demonstra interesse no
genoma humano há anos – e, como você poderia esperar da empresa que criou 99%
dos robôs mortais do mundo, seu interesse não é puramente para fins
educacionais.
Nos EUA, é proibido tentar criar humanos híbridos com outros
animais, mas a agência parece estar experimentando várias formas de engendrar
um “super soldado” com suas pesquisas sobre o genoma humano. Um projeto de
2013, por exemplo, deve usar 44,5 milhões de dólares (cerca de R$ 86,51 mi)
para desenvolver “sistemas biológicos que cruzam múltiplas escalas de
arquitetura e função biológica, a partir do nível molecular e genético”. O
objetivo é aumentar a capacidade do soldado em uma zona de guerra.
Outro projeto é ainda mais descaradamente aterrorizante: o
programa Human Assisted Neural Devices estabelece uma meta para “determinar se
as redes de neurônios podem ser diferencialmente moduladas através de
estimulação neural optogenética em modelos animais”. Optogenética é um ramo
obscuro da neurociência usado para manipular a atividade neuronal e controlar o
comportamento dos animais. E o orçamento passa a especificar que eles esperam
ter uma demonstração funcional da tecnologia em um “primata não humano” ainda
este ano, o que indica que a pesquisa está indo muito bem. Salve-se quem puder…
Fonte: Listverse, HypeScience