Eu ouvi. Ninguém me contou. Escutei com esses ouvidos “que a
terra há de comer”, como se dizia lá em Minas. Escutei a gata ao meu lado dizer
para a outra: “Sua roupa está muito ‘feinha’ para vir à balada”. Depois, ainda
emendou “me desculpe, mas eu sou muito franca”. O comentário nem foi assim tão
maldoso, afinal, que diferença faz o estilo da roupa que coloco para isso ou
para aquilo? O que realmente me preocupa é essa afirmação: “É porque eu sou
muito franca”.
Facilmente as pessoas confundem grosseria com franqueza, por
isso maltratam os outros, tratando-os como se fossem animais que devem ser
açoitados – aqui, no caso, com palavras “francas”.
Nunca aceitei muito essa coisa de dizer tudo que me vem à
cabeça. Muitas pessoas acham isso uma virtude, eu acho um defeito. Aquele que
diz tudo o que pensa extrapola o limite do razoável e se coloca numa posição
intolerante. Ora, por que tenho que escutar todas as baboseiras que saem da
boca daquele que se acha o máximo? Não é porque você diz tudo que pensa que
tenho que escutar coisas que poderiam ser guardadas na sua mente e não nos
ofender com baixarias em nome da franqueza.
Justifcar-se dizendo “falo o que dá vontade” é se achar
melhor do que os outros, submetendo todos às suas opiniões e convicções. Nem
tudo que você pensa é bonito e deve ser acolhido por todos. Nem todas as
pessoas têm obrigação de ouvir aquilo que você acha que todos têm que ouvir.
A tal franqueza é, muitas vezes, utilizada para disfarçar
uma falta de educação. Pessoas que agem grosseiramente e não querem admitir que
são indelicadas justifcam-se dizendo serem francas e falarem sempre a verdade.
Há ainda aqueles que usam a pseudofranqueza para humilhar os
demais e utilizam essa desculpa para apontar um erro e menosprezar o outro em
público.
A tal franqueza é, também, usada para esconder uma falta de
tato no relacionamento social. Pessoas que não sabem se comportar com o outro,
em sociedade, se arvoram em se dizer francas para agir da maneira que elas bem
entendem.
Não quero dizer aqui que não precisamos falar sempre a
verdade ou expor nossas opiniões, mas nem toda verdade precisa ser dita em
determinadas horas. E, vamos ser sinceros, há lugares e momentos certos para se
falar a verdade.
Havia um ditado entre os romanos que pode muito bem nos
orientar como agir: “Aos amigos se chama atenção em silêncio, mas se for pra
elogiar que se faça em público”. Essa é uma regra de ouro. Se você realmente
considera aquela pessoa como amiga e por ela tem apreço e carinho, corrija-a em
silêncio, com respeito, caridade e ternura. Mas se for pra elogiar, que isso
seja feito aos quatro ventos e diga pra todos as qualidades dessa pessoa. Isso,
sim, é uma atitude digna e respeitosa e não se travestir de justiceiro e usar
aquela pseudofranqueza para diminuir e humilhar quem está ao seu lado.
Na próxima vez que você precisar corrigir alguém lembre-se
do que acabamos de conversar, mas lembre-se também que em nossa boca sempre soa
melhor um elogio e não uma crítica ácida e maldosa.
Fonte: M de Mulher por Daniela Carasco com leve adaptação de
Valéria Fernandes