A gaiola tal qual conhecemos é um objeto que serve para
guardar, e por assim dizer, manter em cativeiro, animais de pequeno e de grande
porte.Existem inúmeras pessoas que criam aves e outras espécies de animais em
gaiolas. Nos zoológicos também podemos encontrar os mais diversos tipos de
animais presos em espaços limitados cercados por grades.
O ser humano por sua vez, é um indivíduo independente
que necessita de espaço e um mínimo de comodidade para viver de
maneira sadia. É estranho, dessa forma, ouvir dizer e constatar que em pleno
século XXI, as pessoas sejam consideradas e tratadas como animais, tanto que
não possuem outra saída a ter que morar em gaiolas de metal.
O lugar onde esse descaso acontece é na China, mais
precisamente em Hong Kong, um dos principais centros financeiros do mundo,
admirado por seus imensos e inúmeros arranha-céus e autodenominado “centro do
entretenimento”. A realidade que se esconde nessa magnífica cidade-estado não é
nada positiva, e contrasta, de forma cruel, com o luxo e a cultura tão
orgulhosamente disseminada por aí.
No bairro chinês de classe operária em West Kowloon,
existe uma pobre comunidade que é literalmente forçada a viver em minúsculas
gaiolas de metal, por não conseguirem lidar com os altíssimos preços
da habitação.
Engana-se também, quem pensa que essas gaiolas são uma
alternativa que vem de graça para essa comunidade, antes ao menos fosse. O
aluguel que cada morador deve pagar por sua gaiola é de aproximadamente 1.300
dólares de Hong Kong, o que significa aproximadamente
330 reais mensais.
Quando se pensa em uma comunidade, ainda mais essa de West
Kowloon, no qual seus moradores vivem em condições inóspitas, tem se uma ideia
de que a comunidade deve ter apenas algumas centenas de pessoas, no entanto, de
acordo com estatísticas fornecidas pela Sociedade de Organização Comunitária, o
grupo é tão populoso que chega a ter 100 mil pessoas vivendo nessa situação.
Essas pessoas moram empilhadas umas em cima das outras, em
gaiolas que medem 1,5 metros quadrados, em um local que antes era um prédio, e
agora se encontra em ruínas. Alguns, também vivem em uma espécie de alojamento
inadequado, que incluem cubículos minúsculos subdivididos ou preenchidos com grandes
caixas de madeira, que têm o tamanho e compartimento para dormir. O
banheiro, ou aquilo que deveria ser um banheiro, é uma barraca sanitária e
comunitária disponível em pouquíssimo número, e sendo dividida por centenas de
pessoas. Os homens idosos são a maioria na comunidade, o que reflete um
enorme descaso para com o idoso. Há apenas uma pequena sala com pia, que é
considerada uma cozinha. A maioria das pessoas lava suas roupas em baldes, e
seus colchões na verdade são almofadas finas feitas com esteiras de bambu.
Infelizmente, essa não é uma situação recente. O açougueiro
Leung Cho-yin de 67 anos, é a prova viva do descaso. O idoso vive em uma gaiola
há 20 anos, desde que a sua produtividade no trabalhou baixou quando perdeu
parte de um dedo. “Não há nada que se possa fazer sobre isso. Eu tenho que
viver aqui. Eu tenho que sobreviver”, diz Cho-yin.
Aparentemente conformado, o trabalhador, que não teve muito
estudo, conseguiu apenas encontrar um trabalho que paga pouco e com isso tenta
sobreviver. Quando perguntado, se ele quer sair dali, o chinês é bem franco, e
diz que não tem família, e por isso não deseja aplicar o escasso dinheiro que
ganha em uma habitação social, e prefere passar o resto de sua vida na gaiola
com seus demais companheiros.
A habitação pública, aquela fornecida pelo governo no qual
conhecemos tão bem aqui no Brasil, também não é lá aquela maravilha. As pessoas
que desejam um lar, de acordo com uma pesquisa, são aproximadamente 500
famílias, e esperam em uma longa lista por mais de 4 anos.
A idosa de 63 anos Lee Tat-fong, está nesta lista, e espera
conseguir uma habitação pública para poder se mudar do cubículo, de 50 metros
quadrado, onde vive com seus dois netos pequenos. “Há pouco espaço aqui. Nós
mal conseguimos respirar. É cansativo, às vezes eu fico tão deprimida e com
raiva que eu grito, mas ninguém vê, porque me escondo”, diz ela, que além
de idosa, apresenta saúde debilitada por sofrer de problemas de diabetes.
Eles na verdade não se escondem, e sim são escondidos,
apagados da mídia, como se não estivessem ali, não existissem. A realidade está
sempre aí a céu aberto para ser vista, refletida, e quando é negativa deve ser
combatida. O que acontece é que esse é o lado feio, sombrio, e incômodo que a
China tenta ocultar.
De acordo com dados recentes, os valores habitacionais vêm
dobrando desde 2008. No ano passado, as casas em Hong Kong aumentaram 23% nos
dez primeiros meses.
Dessa forma, as moradias acabam se tornando inacessíveis
para uma grande parcela da população, que não tem reajuste salarial para
compensar e conseguir líder com o aumento abusivo e anual dos custos
imobiliários.
O governo que até metade do ano passado, se quer se
pronunciava a respeito, com o novo chefe-executivo de Hong Kong Leung
Chun-ying, que assumiu em julho passado, aos poucos vai considerando relevante
toda a situação. O primeiro passo já foi dado já que ele reconheceu o problema,
e não o ignorou.
“Muitas famílias precisam mudar para apartamentos
pequenos ou antigos, ou até mesmo edifícios de fábrica. Esses espaços
apertados, apartamentos gaiolas, cubículos e subdivisões se tornaram a escolha
relutante de dezenas de milhares de pessoas de Hong Kong”, declarou Leung
Chun-ying.
O discurso e a consciência de querer mudar a situação
parecem ser a esperança e a força motriz que aquela comunidade precisava. No
entanto, recentemente, o chefe executivo revelou planos de aumentar ainda mais
o preço dos imóveis.
Isso não apenas frustra os moradores das gaiolas como indica
que eles aparentemente não devem ter a menor fé no governo, já que a mão que
serviria para ajudá-los tem planos mais ambiciosos a concretizar no momento.
Fonte:
Jornal Ciência