Pelo menos 125 milhões de pessoas no mundo têm a saúde
comprometida pela poluição tóxica. E a culpa é da atividade
industrial. Chumbo, cromo, mercúrio, amianto, cádmio e compostos orgânicos
voláteis – os poluentes mais comuns e mais mortais do planeta
– já diminuíram 17 milhões de anos de vida nos países em desenvolvimento*. Isso
só em 2012.
Os dados são do World’s Worst Pollution Problems Report (“Relatório de
piores problemas do mundo relacionados à poluição”, em português), documento
elaborado com base nas informações coletadas por um programa de identificação
de locais tóxicos implementado peloInstituto Blacksmith em parceria com a Organização das
Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO). Este indicador estima,
simultaneamente, o impacto da mortalidade e dos problemas que afetam a
qualidade de vida. Por isso, é um importante instrumento para avaliar o estado
de saúde da população.
O relatório mede o impacto da exposição a poluentes tóxicos
em Disability Adjusted Life Years (DALYs), ou seja, Anos de Vida
Perdidos Ajustados por Incapacidade. Se já é assustador imaginar que a
poluição tira tanto tempo de vida, fica ainda comparar com outras doenças: o
número é superior aos 14 milhões de DALYs causados pela malária e não está
muito atrás dos 34 milhões de anos perdidos devido à tuberculose e 29 milhões
provocados pelo HIV/AIDS.
Conheça os 10 maiores focos de poluição do
mundo e seus impactos na expectativa de vida e saúde da população:
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1. Reciclagem de baterias
1. Reciclagem de baterias
Anos de vida perdidos: 4,8 milhões
Apesar de serem recarregáveis, o desgaste de baterias
chumbo-ácidas (usadas em automóveis para partida, iluminação e ignição) diminui
sua capacidade de acumular energia elétrica. O problema é que, quando estas
baterias são recicladas, os metais são separados dos plásticos para a
reutilização dos materiais na cadeia produtiva. Em países de baixa e média
renda, o crescimento da indústria automobilística aumenta a demanda por chumbo
e a reciclagem dessas baterias se torna, por sua vez, também uma grande
indústria. Quando a fiscalização ambiental é ineficaz, esta demanda é suprida
por usinas de reciclagem informais, onde é comum que as baterias chumbo-ácidas
sejam quebradas usando machados ou martelos e a fundição dos componentes
metálicos ocorre em locais abertos. Aí, já viu: sem regulamentação,este tipo
de atividade libera chumbo no meio ambiente e contamina os trabalhadores e a
população, podendo causar problemas neurológicos e de desenvolvimento.
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2. Fundição de chumbo
2. Fundição de chumbo
Anos de vida perdidos: 2,6 milhões
A fundição é um processo industrial que trata os minérios de
chumbo para remover as impurezas para a produção do chumbo metálico. Mas esse
processo não é tão limpinho e pode liberar poluentes pesos-pesados. Os
maiores focos de contaminação relacionados a esta atividade estão na China,
Europa Oriental, América do Sul e no Sudeste Asiático. Nestes locais, a
legislação ambiental frouxa permite que elementos liberados na fundição do
chumbo sejam soltos no ambiente. Emissões atmosféricas podem conter vapores de
chumbo e pó, enxofre e dióxido de carbono, além de finas partículas de poeira
com arsênio, antimônio, cádmio, cobre e mercúrio. Nos processos de fundição sem
controle da poluição, emissões atmosféricas podem chegar a conter até 30 kg de
chumbo por tonelada métrica de chumbo produzido. É poluente que não acaba mais.
Como se não bastasse, substâncias tóxicas podem ser encontradas na água perto
das fábricas de fundição – o controle ambiental inadequado faz com que líquidos
residuais provenientes de processos de fundição sejam misturadas à água
consumida pela população, sem a descontaminação necessária.
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3. Mineração e processamento de minérios
Anos de vida perdidos: 2.521.600
O processo de remoção de minérios, minerais, metais e pedras
preciosas da terra é importante para produção dos mais variados produtos e
materiais, mas pode trazer também grandes impactos à saúde humana.
Normalmente, o minério extraído é transportado para instalações onde é
processado, lavado e separado para obtenção de minerais. A etapa seguinte
inclui o refino de fundição ou algum outro tipo de acabamento, processo que
requer uma diversificada quantidade de produtos químicos. O produto dessa
operação é um rejeito contaminado. O problema está anunciado: em locais em que os
processos de mineração não seguem a legislação ambiental, os resíduos (cheios
de produtos químicos tóxicos) são liberados no meio ambiente.
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4. Operações de curtume
Anos de vida perdidos: 1,93 milhões
Quando você compra um cinto de couro provavelmente não
imagina o processo de produção por trás do acessório. Muito antes de chegar às
lojas (ou às suas calças), o material que constitui esse e outros produtos
similares passou por um conjunto de procedimentos que recebe o nome de
curtimento. É através deste processo que as peles de animais são tratadas e
transformadas em couro. E, como você pode imaginar, transformar a pele dos
bichinhos em matéria prima para produção de sapatos requer o uso de uma
quantidade grande de produtos químicos. Enquanto em fábricas regulamentadas
o impacto ambiental é controlado, em operações informais o risco de
contaminação cresce. Na Índia, por exemplo, 75% dos curtumes foram
produzidos em operações de pequena escala em 2011, em locais onde geralmente
faltam recursos para investir em mecanismos de controle eficiente da grande
quantidade de resíduos produzidos.
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5. Lixões industriais e municipais
Anos de vida perdidos: 1,234 milhões
Lixo doméstico, pilhas, sucata e resíduos agrícolas,
hospitalares e de processos industriais. Em aterros sanitários regularizados há
controle e separação dos resíduos – encaminhando materiais cancerígenos,
corrosivos, tóxicos ou inflamáveis para tratamento. Mas nos lixões e locais de
despejo irregulares tudo está junto e misturado. O resultado não poderia ser
outro se não a ampla contaminação do solo, dos lençóis freáticos e da
população. A maior parte destes lixões está localizada na África, no Leste
Europeu e nos países do norte da Ásia e os impactos na saúde causados
por estes poluentes incluem câncer pulmonar, problemas neurológicos e doenças
cardiovasculares.
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6. Parques industriais
Anos de vida perdidos: 1,06 milhões
Os parques industriais são locais com infraestrutura
geralmente construída pelos governos para atrair e apoiar a atividade. É bonito
no papel, mas nem sempre na prática. A contaminação em parques industriais
geralmente é causada pela falta de tecnologia e infraestrutura adequadas para o
tratamento de resíduos ou controle da poluição. Emissões de poluentes
no ar, contaminação das águas superficiais e dos aquíferos são os principais
problemas encontrados em propriedades mal geridas e controladas.
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7. Mineração artesanal (garimpo)
Anos de vida perdidos: 1,021 milhões
A mineração artesanal é uma atividade informal em pequena
escala, mas libera mais mercúrio no ambiente que qualquer outro setor
em todo o mundo. Utilizando métodos rudimentares e baixa tecnologia,
essas estruturas geralmente não possuem nenhum controle de poluição. O minério,
triturado e lavado para obtenção do ouro, ganha adição de mercúrio durante o
processo – um método bastante ineficiente, que captura apenas cerca de 30% do
ouro disponível. Porém, o mercúrio continua a ser usado por ser barato e por
estar amplamente disponível. Segundo o Instituto Blacksmith, mais de 4,2
milhões de pessoas estão expostas ao risco de contaminação, a maioria na África
e Sudeste Asiático, mas com uma alta concentração de garimpeiros também na
América Latina.
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8. Fabricação de manufaturas
Anos de vida perdidos: 786 mil
Essencial para a prosperidade de um país e importante para
os consumidores individuais, a fabricação de produtos manufaturados é um dos
principais contribuintes para o PIB e para a economia global – segundo
relatórios do World Economic Forum, a quantidade de produtos manufaturados
exportados influencia em 70% das variações do PIB. No caso de países de baixa e
média renda, enquanto a demanda por produtos cresce, a rápida expansão da sua
fabricação é estimulada, mas nem sempre isso significa melhorias na
infraestrutura – 3,5 milhões de pessoas encontram-se potencialmente expostas a
poluentes tóxicos. Com mais da metade dos problemas localizados no Sul e
Sudeste Asiático, onde a regulamentação da fabricação de produtos (você já
sabe) é frequentemente negligente, o problema também está presente em outras regiões
como a África e a China, responsável por 15% dos produtos fabricados no mundo.
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9. Fabricação de produtos químicos
Anos de vida perdidos: 765 mil
Produtos químicos de base, como pigmentos, corantes, gases e
petroquímicos; materiais sintéticos, como plásticos, produtos de pintura,
produtos de limpeza. A fabricação de produtos químicos é uma fonte de
poluição tão grande que o Instituto Blacksmith elabora relatórios individuais
para itens como os produtos farmacêuticos, solventes, corantes e os pesticidas.
Com a maioria dos focos dos problemas na China, Europa Oriental e Sul da Ásia,
a indústria de produtos químicos coloca cerca de 5,3 milhões de pessoas em
risco de exposição. O caso da Europa Oriental é ainda mais grave, com um número
desproporcional da população de risco – cerca de 3 milhões de pessoas.
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10. Indústria de corantes
Anos de vida perdidos: 430 mil
Corantes são utilizados desde 3.500 a.C. para tingir tecidos
e outros materiais. O que mudou de lá para cá é a quantidade de produtos
químicos envolvidos no processo. E é aí que está o perigo: ácido sulfúrico,
crômio, cobre e outros elementos metálicos estão entre os químicos mais
encontrados nos corantes. E ao longo do processo de fabricação muitos outros
aditivos, como solventes e compostos químicos, também são utilizados. Para se
ter uma noção de como esses produtos podem ser altamente poluentes, é só pensar
apenas no caso das indústrias têxteis: com uma produção anual de 60 bilhões de
toneladas de tecidos, as fábricas utilizam 34 trilhões de litros de água para
resfriamento, limpeza de equipamentos e lavagem e processamento de corantes e
produtos. Quando todo esse processo não é fiscalizado, quem paga a conta é a
população: segundo dados do Instituto Blacksmith, a indústria de corantes põe em
risco mais de 1 milhão de pessoas em todo mundo, com o foco do problema se
concentrando principalmente no Sul Asiático e na Índia.
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* A base de dados do Instituto Blacksmith inclui
mais de 1.600 focos de poluição localizados na África, Ásia, Europa, América
Central e América do Sul. Segundo os pesquisadores que assinam o relatório, o
impacto dos poluentes tóxicos identificados é mais alto nos países em
desenvolvimento. Isso se deve a fatores como má regulamentação industrial,
menor controle dos resíduos nocivos, proximidade de indústrias perigosas aos
centros urbanos, falta de conhecimento relativo aos impactos dos dejetos na
saúde e a falta de recursos dos pequenos produtores para contenção de resíduos.
Estes problemas levantam questões para o futuro: a Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) estima que, em 2020, a produção
global de produtos químicos seja 85% mais alta que em 1995 e um terço dessa
produção acontecerá em países em desenvolvimento. O aumento é significativo: na
década de 1990, correspondia a apenas um quinto da produção.
Fonte: Superinteressante