Flagra de uma forte explosão solar: plasma pode ser jorrado
a mais de 700 mil km de distância. Como as tempestades solares são formadas? O
que elas são capazes de fazer no corpo de um astronauta? Qual a explosão mais
forte já registrada? Especialista esclarece o que o próximo mês de maio
significa para o Sol – e para quem mora na Terra.
O Sol é uma bomba atômica que não para de explodir. De
tempos em tempos, essas explosões atingem seu ápice, fenômeno chamado de
'máxima solar'. Os resultados desse evento podem ser ao mesmo tempo devastadores
e surreais: em um dia de 1859, por exemplo, era possível ler um jornal no meio
da rua, mesmo à noite. Hoje, essa violência poderia causar uma chuva de
satélites.
Sabendo que o próximo auge das explosões deve
ser mês que vem, em maio, há muita gente ficando nervosa. Mas não há
motivos para se preocupar: tudo leva a crer que será um ápice discreto.
Os ciclos costumam durar 11 anos, mas isso é uma média, já
que eles podem variar entre 9 e 14 anos. O ciclo atual, então, deve ter
começado em meados de 2008 e provavelmente irá até o final de 2018. “É tudo uma
questão de vales e picos. Esse pico atual é bem ameno. Mas uma ou outra
explosão pode ser extremamente poderosa” explica Ulisses Capozzoli, doutor em
Ciências pela USP. Esse é considerado o 24º ciclo – isso porque a Humanidade
começou a acompanhar a atividade solar há um período relativamente recente,
ainda mais se considerarmos a escala cósmica.
A NASA mantém um observatório em Doulder, nos EUA, cuja
função é monitorar o que acontece com a estrela que regula a vida dos
terráqueos. Lá, os cientistas acompanham a chamada heliosismologia, nome
dado ao estudo que investiga os tremores na superfície do Sol. Eles não são
capazes de prever explosões apocalípticas daqui a uma década, mas é possível
antecipar tempestades que irão acontecer nas próximas horas ou dias. “Nosso
conhecimento do Sol é relativamente grande, mas não o suficiente para
entendermos uma série de fenômenos”, diz Ulisses.
Não é difícil relacionar a imagem do Sol explodindo com o
fim da vida na Terra. Para tranquilizar a todos, Entre Coisas divulga a entrevista com Ulisses
para você entender de uma vez por todas o que são as explosões solares e com elas
podem afetar nossa vida. Confira a entrevista:
Como as tempestades solares surgem?
O coração do Sol é um reator natural de fusão nuclear
funcionando a 15.000.000 °C. Lá dentro tem uma quantidade muito grande de
matéria, uma pressão gravitacional enorme: 340 bilhões de vezes maior que
na superfície da Terra. O que o Sol faz é transformar massa em energia: quatro
átomos de hidrogênio são “amassados” para formar um átomo de hélio. Como tem
mais massa de hidrogênio que de hélio, essa sobra é jogada pra fora.
Ás vezes demora 1 milhão de anos pra essa energia subir até
a superfície do Sol. Imagine uma bola de futebol atravessada de um lado pro
outro por uma mola. Essa mola, no caso do Sol, é uma linha magnética que impede
que essa energia venha até essa superfície. Essa linha vai ficando emaranhada
até que ela se rompe. É aí que a energia é liberada abruptamente. Quando essa
linha se rompe, a energia sobe e o plasma é jogado com violência. Em dezembro
de 2012 houve uma explosão que jogou plasma a 700 mil km de distância, É quase
duas vezes a distância daqui pra Lua.
Os astronautas podem sofrer danos com as tempestades solares?
Os astronautas podem sofrer danos com as tempestades solares?
Uma tempestade solar tem poder para alterar a codificação
genética dos seres humanos: o astronauta pode desenvolver câncer, já que as
células são modificadas. A radiação solar e a radiação cósmica também podem
ocasionar problemas de visão, como a catarata.
Nós poderíamos ir para Marte agora, temos aeronaves com
tecnologia o suficiente para isso. Mas um dos entraves é a radiação cósmica. A
ISS (Estação Espacial Internacional) tem um abrigo especial para esse tipo de
situação – é um cômodo revestido por paredes de chumbo. Não à toa, o
Super-Homem não enxerga através de paredes com chumbo.
O que uma tempestade solar realmente intensa poderia
causar aqui na Terra?
Teve uma explosão solar em 1859 que incendiou redes de
telégrafo. Hoje, uma quantidade de energia que nem essa danificaria uma série
de satélites, haveria interrupção temporária das transmissões de TV ou até
mesmo a ruína total dos satélites. Além disso, o vento solar pode inchar a
atmosfera, fazendo com que satélites em órbita rocem na atmosfera, percam
velocidade orbital e caiam na Terra. Tripulações de aviões poderiam ter
problemas: um avião que sai dos EUA pro Japão faz uma rota polar. Isso
significa que haveria um bombardeio de partículas – essas pessoas iriam
adquirir uma probabilidade maior de desenvolver câncer, se comparado com quem
está no solo. O Sol é uma bomba atômica.
Fonte: Revista Galileu
Foto: NASA