"O que você fez hoje na escola, meu filho?"
"Transformei um carro normal num modelo supereconômico, papai."
Esqueça as provas, a feira de ciências e a tabuada. Se a maior parte das
escolas de hoje ainda é igualzinha à dos nossos pais, as do futuro serão muito
diferentes. E algumas delas já estão funcionando.
A escola onde tudo é um jogo
MINDDRIVE
Onde fica - Kansas City, EUA
Número de alunos - 50
Tipo - Comunitária (ONG) e gratuita
Onde fica - Kansas City, EUA
Número de alunos - 50
Tipo - Comunitária (ONG) e gratuita
Um grupo de alunos está reunido na sala de aulas no meio de
um debate caloroso. Mas a lição aqui não é de matemática ou história - eles
estão tentando adaptar um carro normal em um modelo ecológico e econômico. Essa
é apenas uma das lições desta escola, chamada Minddrive, no Kansas, EUA. De
fato, o maior feito dos alunos por lá é ter desenvolvido um veículo elétrico
capaz de rodar 128 km com a energia equivalente à de 1 litro de combustível.
Esta não é uma escola normal, claro. O Minddrive, na verdade, é um reforço
escolar para adolescentes que não vão bem no ensino regular. Mas seu método
educativo não é tão exótico assim. Ele é todo baseado nos jogos epistêmicos,
uma espécie de RPG (role playing games), no qual os alunos simulam situações
cotidianas e pensam em soluções para os problemas que vão surgindo. "Os
desafios que as nossas escolas enfrentam hoje são importantes demais para
ficarmos isolados. Precisamos preparar os alunos para o mundo real", diz
David Shaffer, professor de pedagogia da Universidade de Wisconsin e chefe do
projeto de jogos epistêmicos para uso na educação. A ideia básica do Minddrive
é apresentar um grande desafio real aos alunos e, sob a orientação de um
instrutor, fazer com que eles encontrem as soluções para este problema. O
aprendizado viria naturalmente, como consequência do processo. De fato, depois
de entrar no reforço, quase todos os adolescentes melhoraram seu desempenho na
escola tradicional.
A escola verde
GREEN SCHOOL
Onde fica - Bali, Indonésia
Número de alunos - Cerca de 370
Tipo - Privada - custo aproximado de R$ 2 mil mensais
Onde fica - Bali, Indonésia
Número de alunos - Cerca de 370
Tipo - Privada - custo aproximado de R$ 2 mil mensais
Nessa escola, tudo é natural: as estruturas são de bambu e
as salas de aula, abertas, para que o calor e o vento balineses possam entrar.
Criada pelo americano John Hardy, ela se baseia na metodologia do educador
britânico Alan Wagstaff, que defende uma maneira de ensinar que conecta
aspectos racionais, emocionais, fisicos e espirituais. Na prática, isso quer
dizer que o conhecimento está dividido em temas, e não em matérias. Por
exemplo, no ensino fundamental, crianças de sete anos aprendem "padrões de
contagem" pulando corda. Em outra aula, o objetivo é relacionar
senti-mento a números e aconte-cimentos históricos. Assim, os alunos pensam em
datas e cifras e as imaginam com as cores que quiserem. De acordo com o método
de ensino, isso humaniza o conhecimento e, consequentemente, ajuda a memorizar
os fatos. O discurso pode parecer meio hippie, mas Hardy garante que funciona.
Até porque um dos objetivos da Green School é que seus alunos saiam de lá
prontos para abrir seus próprios negócios - sustentáveis, de preferência. Ainda
durante o ensino médio, eles simulam a criação de uma empresa. E muitas acabam
saindo do papel. Rasa Milaknyte, que criou sua empresa no 11º ano (penúltimo do
ensino médio), foi um desses casos. "Meu negócio é um serviço: ensino aikidô
para crianças de cinco a 12 anos", diz.
A escola da coletividade
ESCOLA MUNICIPAL DESEMBARGADOR AMORIM LIMA
Onde fica - São Paulo, Brasil
Número de alunos - 700
Tipo - Pública e gratuita
Onde fica - São Paulo, Brasil
Número de alunos - 700
Tipo - Pública e gratuita
Todo mundo pode participar de tudo na escola Desembargador
Amorim Lima. Os pais organizam as festas, os alunos coordenam os debates, a
diretora faz papel de tutora. Até a página do Facebook da escola é atualizada
por pais. Há inclusive um conselho em que todos têm poder de decisão sobre
rumos futuros. "A conquista do espaço público deve ser feita por todo
mundo", diz a diretora Ana Elisa Siqueira. Os alunos estudam em grupos de
diferentes faixas etárias, espalhados por grandes salões - no maior deles,
cabem mais de 100 estudantes. Parte das paredes da escola foi literalmente
arrancada: os espaços foram formados a partir da união das antigas salas de
aula, já no final da década de 1990. A lousa continua por lá, mas sem uso: não
há aulas expositivas nesses espaços - apenas as de inglês, português e
matemática acontecem por perto do quadro-negro, em salas menores. Se você entra
num dos salões, encontra vários pequenos aglomerados de estudantes, além de
professores em pé, correndo de um lado para o outro para atender aos diversos
chamados. Cada um dos jovens anda com um caderno de roteiros de pesquisa, cujo
conteúdo carrega os temas que podem ser estudados durante o ano, como
"consumismo", "comunicação e memória" e "sangue e
excreção". E adivinhe quem escolhe por onde começar e por onde terminar? O
próprio aluno, que é incentivado a ser independente.
A escola dos hyperlinks
POLITEIA
Onde fica - São Paulo, Brasil
Número de alunos - 18
Tipo - Privada: custo aproximado de R$ 1,2 mil mensais
Onde fica - São Paulo, Brasil
Número de alunos - 18
Tipo - Privada: custo aproximado de R$ 1,2 mil mensais
Um dos alunos desenvolveu um game interativo que acompanha a
jornada de zumbis. Outro, uma pesquisa sobre Albert Einstein - durante uma
apresentação, ele até explicou o que é o paradoxo dos gêmeos, um experimento
mental sobre a relatividade. Outra das alunas começou uma pesquisa sobre cães e
gatos abandonados, motivada pela sua paixão por animais. Todos eles são
estudantes da Politeia, uma escola em São Paulo que deixa os alunos imergirem
nos temas que lhes interessam. As pesquisas levam a caminhos inimagináveis. O
exemplo de Joyce Dorea, a garota de 13 anos que decidiu pesquisar animais
abandonados, é emblemático: ao se debruçar sobre o tema, ela descobriu que
muitos animais não são apenas deixados na rua, mas são também deliberadamente
maltratados. Ela então pesquisou mais o assunto e se deparou com a seguinte
história: uma cadela russa chamada Laika foi lançada ao espaço numa nave, com
um fim trágico, pois morreu durante a experiência. A garota ficou curiosíssima
para entender o contexto histórico daquele fato e começou uma pesquisa sobre a
corrida espacial. Esse assunto está diretamente conectado com a Guerra Fria e
termos que até então ela não entendia muito bem, como "capitalismo" e
"comunismo". Foi nesse momento que a garota encontrou as tirinhas da
Mafalda e seus pensamentos impregnados de reflexões políticas - sim, a personagem
virou o tema da última pesquisa da jovem. O percurso de Joyce é apenas um
exemplo entre outros na Politeia. Ele mostra a lógica do hyperlink: de um ponto
para outro e para outro, num percurso imprevisível, aprendendo no meio do
caminho. O desenvolvimento das pesquisas é feito com a ajuda de tutores e
professores. "Durante as pesquisas, o professor precisa entrar no papel de
aprendiz, aceitando que não sabe tudo e aprendendo junto com o estudante",
conta Yvan Dourado, um dos tutores.
A escola high tech
VITTRA
Onde fica - Suécia
Número de alunos - 8 500, em mais de 30 unidades
Tipo - Pública e gratuita
Onde fica - Suécia
Número de alunos - 8 500, em mais de 30 unidades
Tipo - Pública e gratuita
Quando você anda por uma das unidades da Vittra, vê crianças
com computadores por todo lado. Ao se matricular, cada aluno recebe um notebook
de última geração, desde os seis anos. Os aparelhos então são usados em
atividades como o projeto Future City. Nele, cada aluno cria um avatar e
escolhe características e habilidades que considera importantes para si.
Juntos, os personagens criam uma cidade, desenhando a infraestrutura física e
estabelecendo relações sociais, incluindo a criação de leis e a realização de
eleições. As atividades em grupo misturam crianças de diferentes idades e
níveis de conhecimento, e os alunos as escolhem a partir de seus interesses. Em
uma aula sobre o corpo humano, por exemplo, são as crianças mais velhas que
ensinam as mais jovens - e podem usar o que quiser para isso: livros, animações
ou apresentações digitais. "Ensinar alguém é uma ótima forma de
aprender", explica a professora Frida Monsén. "Observamos que os
alunos dão o seu melhor quando sabem que o trabalho é para seus colegas e não
apenas para o professor", diz.
A escola mais difícil do mundo
JUKU E HAGWON
Onde fica - Japão e Coreia do Sul
Número de alunos - Variável
Tipo - Privada - custo aproximado de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil mensais (fora o valor da escola regular)
Onde fica - Japão e Coreia do Sul
Número de alunos - Variável
Tipo - Privada - custo aproximado de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil mensais (fora o valor da escola regular)
Juku e hagwon são cursinhos preparatórios para crianças que
viraram febre no Japão e na Coreia do Sul. No Japão, cerca de 20% dos alunos
frequentam os juku já na pré-escola, para se preparar para os exames de
admissão do ensino fundamental. Isso mesmo, são crianças de cinco ou seis anos
fazendo cursinho. Depois que entram na 1ª série, os alunos passam a estudar em
outro juku, já com a intenção de se preparar para o ensino médio, e assim
seguem até o vestibular. Resultado: boa parte das crianças passa de dez a 12
horas por dia estudando. "Assim que chegam em casa, os pais querem que
estudem ainda mais", explica Julian Dierkes, da universidade canadense de
British Columbia, especialista nas metodologias pedagógicas da Ásia. Na Coreia
do Sul, país com as melhores notas nos testes escolares internacionais, a mania
é ainda mais extrema. Tanto que virou caso de polícia: existem equipes
especializadas em investigar os cursinhos noturnos, os hagwon. Por lei, esses
espaços só podem funcionar até as 22 h, mas, para conseguir melhores
resultados, alguns hagwon seguem com as aulas madrugada adentro. Em um caso
recente, após receber uma denúncia anônima, uma patrulha especial da polícia
chegou a um beco no distrito de Gangnam, em Seul (aquele da música do Psy). Os
policiais identificaram o endereço, cercaram o prédio e encontraram uma sala de
aula, onde dez alunos estudavam. O professor acabou preso e processado.
Preocupado com os altos índices de estresse dos alunos, o ministério da
educação coreano quer desestimular os hagwon. Pretende aumentar a qualidade das
aulas regulares e mudar os sistemas de ingresso nas universidades, que estão
passando a considerar testes de habilidades e entrevistas, além das
supercompetitivas notas.
A escola do YouTube
KHAN ACADEMY
Onde fica - Na internet
Número de alunos - 43 milhões
Tipo – Livre
Onde fica - Na internet
Número de alunos - 43 milhões
Tipo – Livre
Em 2004, nos EUA, um jovem americano chamado Salman Khan,
filho de mãe indiana e pai de Bangladesh, queria ajudar sua prima, que morava
na Índia, a estudar matemática. Como estava longe, gravou umas aulas em vídeo e
as publicou no Youtube, para que a prima pudesse acessar suas explicações. Mas
ele não esperava que suas aulas fossem virar hits. Khan começou a receber
pedidos para que gravasse vídeos de outros assuntos. Assim surgiu a Khan
Academy, hoje uma febre mundial. A Khan disponibiliza gratuitamente na internet
mais de 3 200 aulas em vídeo e animação. Somados, eles já têm mais de 200
milhões de visualizações. Algumas escolas dos EUA (e do Brasil tambem!)utilizam
os vídeos da Khan na sala de aula - o que aponta para uma sutil e gradual
tendência de, aos poucos, substituir as tradicionais aulas com lousa e giz.
"O velho modelo simplesmente não atende mais às necessidades das pessoas,"
diz Salman Khan. "É uma forma de aprender essencialmente passiva, mas o
mundo requer uma maneira mais ativa de processar informação. E a tecnologia
oferece isso."
A escola onde o aluno decide o que fazer
SÃO TOMÉ DE NEGRELOS (conhecida como Escola da Ponte)
Onde fica - Vila das Aves, Portugal
Número de alunos - 220
Tipo – Pública
Onde fica - Vila das Aves, Portugal
Número de alunos - 220
Tipo – Pública
A escola tradicional se baseia na ideia de que o aprendizado
segue um caminho mais ou menos igual para todos. Por isso, temos a divisão em
turmas por idade, currículos padronizados e provas iguais para todos os alunos.
Mas há quem discorde: algumas teorias da educação entendem que cada aluno é
único e deve ter autonomia para aprender. Com base nessa ideia, surgiu em
Portugal, em 1976, a Escola da Ponte, que fica numa vila a 30 km do Porto. A
escola não tem salas de aula, não separa o conteúdo em disciplinas, não demarca
horário para iniciar ou terminar uma atividade. Funciona assim: os professores
apresentam aos alunos uma variedade de temas. Cada um escolhe um assunto que
mais lhe interesse e diz se quer trabalhar sozinho ou em grupo. Todos dividem o
espaço da escola, espalhados por grupos de mesas. Se preferirem, podem fazer as
atividades ao ar livre. "Os alunos gerem, quase com total autonomia, os
tempos e os espaços educativos. Escolhem o que querem estudar e com quem",
explicou José Pacheco, fundador da escola, em palestra recente no Brasil. Ao
final de cada dia, há uma espécie de assembleia geral, onde os alunos
compartilham com os colegas o que aprenderam. Quando sentem que estão
preparados para fazer uma prova, definem quando vão fazer o teste,
individualizado para cada um, levando em conta a lista de conhecimentos
adquiridos. Parece o paraíso na Terra, mas nem todos se adaptam ao modelo. Há
aqueles que desistem, e acabam voltando ao sistema tradicional. Mas a
metodologia da Escola da Ponte convenceu o governo português, que valida seu
diploma como o de qualquer outra escola.
A escola para gays
HARVEY MILK HIGH SCHOOL
Onde fica - Nova york, EUA
Número de alunos - 110
Tipo – Pública
Onde fica - Nova york, EUA
Número de alunos - 110
Tipo – Pública
A Harvey Milk School (que leva o nome do principal ativista
político americano da causa gay, assassinado em 1978) é voltada
prioritariamente para jovens homossexuais. Suas diretrizes dizem que "a
escola é aberta para todos os alunos, independentemente de raça, gênero,
orientação sexual". Mas, na prática, quase todos os alunos são abertamente
gays ou lésbicas. "A escola foi criada para que adolescentes homossexuais
pudessem estudar sem a ameaça de violência física ou emocional que costumavam
enfrentar no ambiente escolar tradicional", explica Thomas Krever, diretor
executivo da iniciativa. Para o diretor, em um ambiente em que possam se
expressar livremente, os alunos têm mais condições de se dedicar aos estudos. A
instituição foi alvo de críticas por ser abertamente voltada a um perfil
específico de estudantes, especialmente depois de ter sido trans-formada em uma
escola pública em 2002, passando a receber recursos do governo. Mas, pelos
dados da escola, os resultados dos alunos da Harvey Milk em exames são
superiores aos da média de Nova York. Aí fica difícil contestar.
Para saber mais
www.educ-acao.com
www.educ-acao.com
Fonte: Superinteressante