Uma das áreas mais complexas da medicina comportamental
trata das questões relacionadas a medo, fobias, ansiedade e desordens
obsessivo-compulsivas, que não raro acometem os cães. Embora possam estar
relacionados, esses distúrbios diferem entre si em termos neurofisiológicos, o
que dificulta o seu diagnóstico clínico. A depressão, ou estado depressivo,
pode estar relacionada à ansiedade e acontece quando o animal é exposto a
situações de estresse, em caráter crônico ou de forma traumática, passando a
manifestar sinais de inabilidade em executar suas funções biológicas, apatia,
inapetência e isolamento social.
O que pode causar depressão nos cães?
Não entendemos claramente a maneira como uma causa
desencadeia um problema, podemos apenas avaliar a forma como as interações se
manifestam externamente. Embora haja uma considerável variação quanto à
vulnerabilidade ao estresse, sabemos que os animais podem apresentar sequencias
genéticas que os predispõem a alterações de humor relacionadas ao estresse.
Entre as causas mais comuns do estresse nos cães estão as mudanças súbitas de
rotina, perdas afetivas por morte ou ausência de um membro do grupo, introdução
de novo membro ao grupo [isso inclui outros animais ou pessoas estranhas],
perda de liberdade, experiências traumáticas vividas na infância, solidão e/ou
abandono.
Quais são as raças mais propensas? Por quê?
Qualquer cão de qualquer raça pode manifestar sintomas de
depressão. Mas parece haver uma maior predisposição a esse quadro em raças
selecionadas para companhia. Isso acontece porque esses cães invariavelmente
têm grande dependência emocional do dono, pouca autonomia, vivem em ambiente inadequado,
que não atende ás suas necessidades básicas, nem garante sua qualidade de vida.
No entanto, há uma maior variação entre animais da mesma raça do que entre
raças diferentes, no que diz respeito à vulnerabilidade ao estresse. Cada
animal é único e deve ser encarado como um indivíduo dotado de características
próprias.
O que muda no comportamento de um cão depressivo?
São sinais indicativos de depressão, ou estado depressivo, a
inabilidade em executar funções biológicas, a falta de apetite, a apatia e o
isolamento social. O cão interage pouco e não demonstra interesse por
atividades que antes eram estimulantes para ele, como os passeios ou
brincadeiras, e busca cantos da casa para se isolar.
Quais são os sintomas que demonstram que um cão
está com depressão?
Apatia, falta de apetite, tristeza, baixa interatividade e
resposta a estímulos, isolamento e intolerância ao toque físico. Esses sintomas
diferem em intensidade e podem surgir de forma lenta e gradual. Cabe ao
proprietário perceber as sutis mudanças de comportamento do animal e buscar
ajuda antes que o problema se agrave.
Quando um animal está doente ele está propenso a ter
depressão? Por quê?
Sim. Um cão doente pode passar por um período depressivo, o
que não significa que esse quadro será permanente. Algumas doenças debilitantes
ou que provocam desconforto físico podem deixar o cão deprimido, pois afetam
seu estado emocional e seu humor. Animais que passam por cirurgias ósseas, ou
aqueles que vivem a experiência de um atropelamento, podem ficar deprimidos por
causa do estresse gerado nessas situações. A maneira como o cão lida com o
estresse depende de sua constituição neurológica e emocional, das suas
características de personalidade e do ambiente onde ele vive.
Quais as doenças que tem como principal sinal a
depressão?
Posso citar algumas doenças endócrinas, como o
Hipotireoidismo, onde o animal apresenta sintomas como apatia, baixa energia
vital, temperatura corporal abaixo do normal e alteração da função cardíaca,
apresentando arritmias no Eletrocardiograma. Fêmeas também podem desenvolver
estados depressivos por questões hormonais. Isso acontece geralmente na época
do cio e dura cerca de dois meses. Nesse caso, a depressão é transitória e
tende a desaparecer após esse período. Cães idosos também são mais susceptíveis
à depressão. Para esses animais, mesmo pequenas mudanças na rotina podem afetar
seu estado emocional e seu humor, gerando ansiedade e apatia.
O que devo fazer para que meu cão não fique depressivo se
ele fica o dia inteiro só em casa?
É importante esclarecer que a maior parte dos cães consegue
lidar bem com a ausência do dono, principalmente se ele foi criado de maneira
independente e estimulado a ter autonomia. O problema acontece quando o cão é
emocionalmente dependente e seu proprietário estimula mais ainda essa
dependência, ao exagerar na atenção quando está em casa. Alguns cães têm
dificuldade em se separar do dono, por causa de seu temperamento ou
condicionamentos na criação. Esses animais acabam desenvolvendo um problema que
nós chamamos de ansiedade de separação, que é diferente de depressão.
Se desde filhote o cão entende as regras do ambiente e
percebe que durante algumas horas ele vai ficar só, ele vai se adaptar a isso.
Cães equilibrados procuram tirar sonecas ou se distraem roendo ossos de longa
duração ou com brinquedos que estimulem sua criatividade. O proprietário deve
deixar sempre à disposição do animal opções para ele se distrair enquanto
estiver sozinho. Quero lembrar que faz parte da natureza do cão gostar de
companhia e pedir atenção. Algumas raças são naturalmente mais independentes e
mais tranquilas, portanto cabe ao dono escolher uma raça que melhor combine com
seu estilo de vida.
Como tratar um cão com depressão?
A depressão deve ser encarada como um processo complexo. Uma
vez diagnosticado o problema e definida a sua causa, o tratamento pode incluir
medicamentos antidepressivos, além de mudanças no manejo. Remédios homeopatas e
Florais de Bach contribuem para o restabelecimento emocional do cão deprimido e
podem ser prescritos pelo terapeuta. Melhorar a qualidade de vida do animal e
cuidar do seu bem estar é também importante. Essa é a base da terapia
comportamental.
Meu cão faz muita bagunça quando estou fora. Este é um
sinal de ansiedade e/ou depressão? O que devo fazer?
Para afirmarmos que um cão está sofrendo de ansiedade de
separação, é preciso que ele demonstre alguns comportamentos que só se
manifestam na ausência do dono. Esses indicadores são:
- ansiedade e comportamento depressivo quando o dono está se
preparando para sair;
- tentar sair junto com o dono no momento em que a porta se
abre;
- choramingar e latir sem parar durante o tempo em que o
dono está fora;
- urinar e defecar pela casa toda [isso vale só para cães
que já são adultos];
- cavoucar ou arranhar a porta e/ou o chão perto da saída;
- roer ou destruir móveis.
E por que o cão faz isso? Ao adotar comportamentos
destrutivos o animal procura aliviar sua ansiedade. Punir o cão por causa
dessas atitudes não terá efeito algum, pois cães têm memória curta e estudos
comprovam que os comportamentos destrutivos ocorrem na primeira meia hora após
a partida do dono.
A terapia nesse caso tem como objetivo principal diminuir a
ansiedade do cão e deve se basear em alguns princípios:
- redirecionar a ansiedade, como por exemplo, oferecer um
brinquedo interativo;
- ignorar o cão por 20 minutos antes de sua partida e depois
de chegar em casa;
- alterar seus momentos de partida e as pistas – pegar a
chave, a bolsa e seu casaco, quando você NÃO estiver saindo.
- consultar um especialista, que poderá prescrever um
medicamento ansiolítico para aliviar a ansiedade do cachorro, além de propor
mudanças no manejo e treinamento.
Fonte: Vida de cachorro