Fezes de inseto, mofo, bactérias… Você não teria coragem de
comer alimentos que tiveram contato com esse tipo de coisa e, se encontrasse
algo assim em um restaurante, sairia sem pagar a conta. Mas o que você não sabe
é que pode estar inalando contaminantes, toxinas, e mais um monte de outras, a
cada respiração.
“Os alérgenos presentes no ar frequentemente são invisíveis e
os efeitos prejudiciais podem não ser drásticos no primeiro momento”, diz Anne
Steinemann, engenheira civil e ambiental da Universidade de Washington (EUA).
“Mas, com o tempo, e a exposição frequente, os danos se
acumulam”, completa.
De fato, um número cada vez maior de pesquisas sugere que os
alérgenos aerotransportados podem prejudicar sua memória, enfraquecer seu esperma
e aumentar seu risco de ter doença cardíaca e câncer. E o que é pior: o sinal
vermelho para avisar o perigo é o próprio quadro alérgico. Por isso,
identificamos os maiores inimigos soltos pelo ar e traçamos estratégias para
ajudá-lo a proteger-se de alergias respiratórias. Respire fundo!
Ácaros
Esses microscópicos aracnídeos vivem em colchões, almofadas,
carpetes… São transportados de um lado a outro pela poeira solta no ar e se
alimentam de partículas de pele humana. Uma fungada carregada de ácaros pode
causar espirros e alergias, diz o médico alergista americano James Sublett.
Mais: estudo realizado na Universidade de Cincinnati (EUA) mostrou que
camundongos que inalaram regularmente esses ácaros e seus excrementos tinham as
artérias do coração mais apertadas, o que pode aumentar o risco de falência
cardíaca.
Acabe com a ameaça
Para vencer esses agentes de uma vez por todas, você precisa
lançar uma ofensiva generalizada: estudo publicado na revista americana
Environmental Health Perspectives revelou que usar capas de colchão à prova de
ácaros, lavar as roupas de cama toda semana com água quente e limpar tapetes e
estofados com o aspirador de pó e aparelhos de vapor seco reduziu a presença de
ácaros e as reações alérgicas em até 95%. Mas ainda faltam 5%. “Para acabar com
as fezes e fragmentos de corpos deles que ficam no ar da sala e do quarto ligue
um purificador de ar ou ventilador, deixe janelas e portas abertas, pelo menos
uma hora por dia. Assim, o ar circula e dissipa os alérgenos presentes no
ambiente”, sugere Andrea Sette, pneumologista e clínica geral do Hospital e
Maternidade São Luiz, em São Paulo.
Mofo
Sabe aquela mancha verde na sua parede? É causada por um dos
fungos mais comuns em ambientes fechados, o Aspergillus. Ele é capaz de soltar microtoxinas
que podem penetrar nos seus pulmões. Resultado: você pode sofrer com inflamação
nasal e dificuldade na respiração. Isso porque inalar partículas de
Aspergillus, segundo estudo realizado na Finlândia, pode levar a uma infecção
de pulmões e ainda causar a morte. E para piorar, eles estão cada vez mais
resistentes a medicamentos.
Dê cabo do mofo
Mesmo o fungo morto pode causar crises fortes de alergia,
advertem os peritos da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA).
Então, você precisa eliminar qualquer resíduo fúngico. Se você localizar uma
mancha de mofo, no seu quarto ou sala, – é bom checar as áreas úmidas e escuras
– pegue luvas, uma máscara e uma escova de cerdas duras. Misture 1 xícara de
água sanitária em 4 litros de água e esfregue a área até que não haja mais mofo
visível. Enxague com água limpa e deixe a área secar completamente. Reforce
suas defesas internas também: cientistas da Carolina do Sul recentemente
estabeleceram ligação entre infecções nasais provocadas por mofo e
insuficiência de vitamina D no organismo. Inclua atum fresco (150 g) e dois
ovos de galinha em sua dieta, beba leite e tome, pelo menos, 15 minutos de sol,
antes das 10h ou depois das 16h. Isso pode acalmar a reação inflamatória
causada pelos esporos dos fungos.
Poluição
O ar das grandes cidades está repleto de partículas nocivas
ao organismo, como a fuligem que sai dos escapamentos de carros. Inalar isso
constantemente pode causar problemas de memória e infertilidade. Também pode
interferir nos sinais do sistema nervoso que controlam sua frequência cardíaca
e pressão sanguínea, diz o epidemiologista Gregory Wellenius, doutor em ciência
da Universidade Brown (EUA). Quer mais? Um estudo publicado em 2012 no
periódico americano Archives of Internal Medicine descobriu que a exposição ao
ar poluído pode elevar o risco de um acidente vascular cerebral (AVC).
Corra dos problemas
Exercícios aeróbicos regulares ajudam a evitar a inflamação
induzida por essas partículas nocivas, segundo estudo publicado no periódico
americano Medicine & Science in Sports & Exercise (EUA) [veja boxe
abaixo]. Apenas reconsidere sua rota ao ar livre: evite correr em avenidas,
estradas movimentadas ou áreas industriais. A poluição compromete o rendimento,
de acordo com pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os
pesquisadores constataram que poluentes do ar elevam a frequência cardíaca e
aumentam a pressão arterial. Então, um parque com sombra e perto de água (lago,
lagoa, rio ou mar) é o ideal. “As árvores e brisa próximas das margens ajudam a
dispersar a poluição”, segundo Linsey Marr, professora associada de engenharia
civil e ambiental na Universidade Estadual e Instituto Tecnológico da Virgínia
(EUA).
Monóxido de carbono
Você não precisa estar preso no trânsito para inalar esse
gás tóxico. Segundo cientistas britânicos, a cozinha é um dos locais mais
comuns de exposição ao monóxido de carbono (CO). Toda vez que você acende o
fogão a gás libera CO, que é inodoro e venenoso. Normalmente, a quantidade é
mínima e se dissipa rapidamente. Mas se seu fogão apresenta algum mau funcionamento
ou se a ventilação do cômodo é muito ruim, o gás nocivo permanece no ambiente e
pode invadir seus pulmões. Dentro deles, o CO reage com os glóbulos vermelhos
do sangue e desaloja o oxigênio que seria transportado aos outros órgãos e
células.
Inspecione seu equipamento
Verifique seu fogão. A chama das bocas está amarela em vez
de azul? Existe fuligem em alguma delas? Se a resposta for sim, seu aparelho
pode estar funcionando mal e deve ser examinado por um profissional ou o
botijão de gás apresenta problemas. Procure a companhia que distribui o
recipiente e peça uma solução.
Composto Plefuorado
Também conhecido como CPF, é uma substância química usada
frequentemente em móveis, tapetes, tintas e utensílios, para repelir água e
manchas. Segundo estudo publicado na revista americana Environmental Science
& Technology, os CPFs podem ser inalados e permanecer em seu corpo durante
anos. “Também podem alterar seu nível de testosterona e hormônios da tireoide”,
diz Olga Naidenko, cientista do centro americano de pesquisas sobre meio
ambiente Environmental Working Group. Isso pode, mais cedo ou mais tarde, levar
a doenças da tireoide, redução da contagem de espermatozoides, alta no
colesterol e obesidade.
Não tenha medo de manchas
Os órgãos reguladores estão trabalhando ao lado de diversas
empresas internacionais para eliminar os CPFs de tudo, de mobília a embalagens
de alimentos, até 2015. Até lá, evite comprar móveis, tapetes e roupas tratadas
com substâncias químicas resistentes a manchas. Também dê preferência a panelas
e utensílios para cozinhar de aço inoxidável, que não possuem CPFs, ao
contrário de panelas antiaderentes, recomenda Naidenko. Como você também pode
ingerir esses compostos evite comer sempre em drive-thrus – aquelas embalagens
muitas vezes contêm CPFs, que podem se infiltrar na sua comida.
COVs
Compostos Orgânicos Voláteis, como são chamados, entre eles
o formaldeído, mais conhecido como formol, o benzeno, tolueno e o xileno, são
classificados como tóxicos ou nocivos e foram ligados à baixa qualidade de
esperma, asma e câncer, diz Anne. Inalados ou absorvidos pela pele, os COVs
podem entrar na sua corrente sanguínea e acabar no seu cérebro. Por isso, a
exposição repetida pode acabar resultando em dano do sistema nervoso central.
Pesquisa publicada na revista americana Environmental Impact Assessment Review
revelou que os aromatizadores de ar, produtos de lavanderia e produtos de
limpeza da casa perfumados emitem uma média de 17 diferentes COVs.
Cuidado com produtos aromatizados
As fichas técnicas dos produtos podem indicar se possuem ou
não COVs, porém os fabricantes não são obrigados a revelar tudo. De forma que
Anne recomenda tomar cuidado com aromatizadores de ambientes e tintas acrílico,
por exemplo. “Para evitar essa intoxicação, escolha produtos à base de água e
não de solventes ou outros aditivos, como muitas vezes é descrito na ficha
técnica do produto”, diz. Uma dica é pendurar aspargo alfinete em casa, um tipo
de planta que pode ser encontrado em qualquer loja de botânica e reduz a
quantidade de COVs no ar de ambientes internos, segundo estudo da Universidade
da Geórgia (EUA).
Corra dos sintomas da alergia
O exercício pode aliviar inflamações
Mais de 70% dos sintomas de alergias, como espirros, nariz
congestionado, corrimento nasal e irritação na mucosa diminuíram depois que
cientistas tailandeses colocaram pessoas com crises alérgicas para correr por
meia hora. A teoria é que exercícios aeróbicos diminuem a inflamação nas
cavidades nasais. Os cientistas acreditam que manter um ritmo de 65% a 70% da
sua frequência cardíaca máxima é o indicado para ter tal benefício.
Os números das alergias
85 pessoas morrem por dia no Brasil vítimas de alguma Doença
Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), como asma alérgica e bronquite.
70% dos casos atendidos em prontos-socorros, com a chegada
do outono, estão relacionados a alergias respiratórias.
30% dos casos de alergias respiratórias de outono são
rinite.
5 a 20% da população sofrem de asma alérgica. E as crises
aumentam com a baixa umidade no ar, que potencializa a concentração dos
alérgenos.
Fontes: Estudo Multicêntrico Internacional de Asma e Alergia
(Isaa); Secretaria Municipal de Saúde, Revista Men’s Health