Choques, explosões e queimaduras casos recentes levantam a
questão: qual é a verdadeira segurança dos aparelhos que estão no mercado? E
como podemos nos proteger dos acidentes?
O caso da aeromoça chinesa Ma Ailun, de 23 anos, que morreu
eletrocutada após atender seu iPhone enquanto ele estava ligado à tomada,
ganhou novos detalhes, mas continua sem grandes explicações tanto da Apple
quanto da polícia local. Na Suíça, uma jovem teve a perna queimada após seu
celular, um Samsung Galaxy S3, ter explodido enquanto estava no bolso da calça.
A notícia da morte da chinesa veio acompanhada de um alerta, orientando a não
usar aparelhos celulares enquanto estão sendo carregados; a da suíça reacendeu
a dúvida: estamos andando com uma pequena bomba junta ao corpo todos os dias?
Vamos primeiro aos fatos e depois às teorias. Ma Ailun mora
na cidade de Changji, na província de Xinjiang, a noroeste do China. A família
teria informado que o aparelho, um iPhone – há relatos que se contradizem sobre
o modelo, mas ao que tudo indica se tratava de um iPhone 5 –, fora comprado em
dezembro do ano passado e se tratava de um aparelho original. Mais
recentemente, uma emissora de TV local obteve a informação também com a família
de que o carregador poderia não se tratar de um equipamento autêntico. Ma Ailun
teria também atendido o celular após sair do banho.
A Associação de Consumidores do país asiático fez um alerta
no mês de maio sobre a “inundação” de carregadores sem certificação de
segurança no mercado chinês. Sem meias palavras, a organização falava que
carregadores falsos poderiam transformar aparelhos eletrônicos em “granadas de
bolso”. Além disso, uma das suspeitas é de que o carregador seja compatível
apenas com o padrão de 100 volts de Hong Kong, Taiwan e Japão e não com os 220
volts da China continental – mas a razão do “choque” ter ocorrido depois de 7
meses de uso anula a força desse fator para a investigação.
Carregadores de celular geram corrente de 1 ampere (amp) e
voltagem de 5 volts. A carga necessária para a morte por eletrocussão é de 7
miliamperes (ou seja, 0,007 amp), durante três segundos, afetando diretamente o
coração e, assim, alterando o ritmo do seu batimento. Todo e qualquer tipo de
corrente elétrica que atinge algum ser humano sofrerá ainda outro fator em
jogo: a resistência (contada em ohm) do corpo que, só na pele, conta com 5 mil
a 15 mil ohms.
Isso para dizer que mesmo se a aeromoça estivesse molhada do
banho, o que facilitaria a passagem da corrente, e sem roupas (que também
reforçam a resistência), a corrente não seria suficiente para matá-la.
Para a pesquisadora Maria de Fátima Rosolem do Centro de
Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), uma das instituições
contratadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para fazer os
testes laboratoriais para certificar a segurança e homologar aparelhos
eletrônicos no país, é improvável que a eletrocussão tenha sido causada pelo
carregador apenas.
“Pode ter havido algum problema com a rede externa ou uma
descarga da rede elétrica no carregador, como em casos de raios que matam
pessoas que estão usando um telefone comum durante uma tempestade”, diz,
lembrando que a chance de passagem de eletricidade de um aparelho eletrônico para
o seu usuário é “difícil”.
“A regulação, ensaios de homologação e certificação que eles
têm de atender são parâmetros mínimos internacionais e servem justamente para
que acidentes assim não aconteçam. Se não for um raio, é provável que aparelho
não estivesse adequado a essas normas”, afirma.
Devemos evitar usar aparelhos eletrônicos carregáveis enquanto
estiverem na tomada? “De forma nenhuma”, opina Rosolem. Os carregadores são
equipamentos para limitar a corrente que transita por ele.
“Não há problema
algum, apenas aconselho que num dia de tempestade se desliguem os aparelhos da
tomada, porque a descarga de corrente de energia pode vir não por culpa do
equipamento, mas pela rede.”
Fanny Schlatter exibe o celular explodido e o ferimento na
perna (Foto: reprodução/LeMatin)
Celular explode?
Nesta semana, outro caso chamou atenção. A suíça Fanny
Schlatter declarou que teve sua calça rasgada pela combustão do Galaxy S3.
Fanny teria ouvido uma explosão parecida com a de fogos de artifício, sentindo
logo depois cheiro de substâncias químicas. Em seguida, suas calças pegaram
fogo - ela foi acudida por sua chefe, Stephane Kubler, e por colegas de
trabalho. Quando chegaram até a vítima, já havia chamas na altura dos ombros.
Em seguida, Schlatter foi levada ao banheiro e os colegas conseguiram apagar o
fogo, o que não impediu que a jovem ficasse com queimaduras de queimaduras de
segundo e terceiro graus na coxa direita. A história foi narrada pelo jornal Le
Matin.
A explicação para o caso é explosão da bateria, feita de um
composto de lítio, que em contato com oxigênio ou umidade, pega fogo
espontaneamente. Segundo Rosolem, o material, apesar da sua alta reatividade, é
o melhor para a fabricação de baterias por ser pequeno, leve e capaz de
armazenar uma grande quantidade energia durante bastante tempo. No entanto, há
pesquisas hoje, motivadas principalmente pela criação do carro elétrico
(imagine carros explodindo espontaneamente por aí), com o objetivo de encontrar
composições com o lítio para diminuir os seus riscos de explosão.
Baterias de lítio possuem meios condutores de eletrólito que
em altas temperaturas desligam o aparelho. Há ainda um pequeno circuito
elétrico instalado em cada uma que auxiliam no controle da instabilidade
interna.
Componentes velhos, danificados por queda ou com defeitos na fabricação
podem permitir a entrada de pó, umidade ou funcionar de maneira indevida e,
assim, ocorre o curto-circuito e a bateria (lacrada) explode pela pressão.
Segundo Rosolem, há inúmeros fatores que podem contribuir, inclusive a
danificação do circuito de proteção pelo uso de carregadores não originais e,
por isso, pondera que “a investigação de um problema desses não é simples”.
Regulação e cuidados
No Brasil, aparelhos celulares e tablets só podem ser
vendidos no mercado se forem homologados pela Anatel. Isso implica que os
equipamentos terão de passar uma bateria de testes feitos por laboratórios
credenciados que atestarão a qualidade do produto. São objetos de análise o
telefone, o celular e o carregador (em separado). Cada um recebe um adesivo com
o símbolo da Anatel se aprovado (abra a tampa da bateria do seu celular e veja
se ela não está lá). “São normas bem rígidas, tanto é que muitas empresas
estrangeiras reclamam da burocracia do processo quando chegam por aqui, a
homologação aqui é mais apertada mesmo”, diz a pesquisadora do CPqD.
Essa é a principal razão pela qual não se recomenda a compra
de equipamentos “paralelos”, que não passam pela certificação da agência. “O
aparelho pirata não é mais barato por mero acaso, é porque ele deixou de passar
por algum processo importante de qualidade. Se for o dano for a diminuição do
tempo de vida útil do aparelho ou da bateria, tudo bem; o real problema é
quando a ausência de qualidade afeta a segurança”, diz Rosolem.
Fonte: Revista Galileu