Para muitas pessoas, lutar contra a balança é mais do que
uma questão estética. Significa viver melhor. Num país em que os índices de
obesidade crescem - hoje 18% das brasileiras pesam muito mais do que deveriam
-, as cirurgias de redução de estômago estão cada vez mais populares. Mas os
médicos alertam: este deve ser o último recurso para quem quer emagrecer.
Afinal, é uma solução radical. "A cirurgia bariátrica deve ser vista como
parte de um programa que envolve mudança de hábito, reeducação alimentar e
prática frequente de atividade física", diz Almino Ramos, presidente da
Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. Além disso, há outras
questões que você deve conhecer antes de encarar a mesa de cirurgia. Confira os
principais mitos e verdades sobre a redução de estômago.
1. QUALQUER UM PODE FAZER UMA CIRURGIA BARIÁTRICA.
Mito - A redução do estômago é indicada para pacientes a partir de 16 anos que têm o índice de massa corpórea, o chamado IMC, acima de 40 kg/m², com ou sem doenças associadas, como diabetes, hipertensão, e entre 35 e 40 kg/m², com doenças associadas. É preciso também que o paciente tenha tentado emagrecer sem sucesso por dois anos, em média, com dieta, exercícios físicos e medicamentos.
Calcular o IMC, medida que os médicos usam para definir
obesidade, é simples. Divida seu peso pela sua altura multiplicada por ela mesma!
2. NÃO EXISTE CONTRAINDICAÇÃO
Mito
A cirurgia não pode ser realizada em pacientes portadores de doenças
psiquiátricas que impeçam a adesão ao tratamento pós-cirúrgico, usuários de
drogas e alcóolatras, pacientes que sofrem de compulsão alimentar e em quem tem
doença cardíaca em estágio avançado.
3. QUEM FEZ REDUÇÃO DE ESTÔMAGO NÃO PODE ENGRAVIDAR
Mito - A Sociedade Brasileira de Cirurgia
Bariátrica e Metabólica recomenda que as mulheres procurem engravidar dois anos
após a cirurgia. Engravidou? Informe o médico que a acompanhou durante todo o
processo de tratamento.
4. VOCÊ EMAGRECE BEM MAIS NOS SEIS PRIMEIROS MESES APÓS A
CIRURGIA.
Verdade - "No começo, o seu metabolismo
queima mais gordura", diz o cirurgião bariátrico João Luiz Azevedo. O emagrecimento
total acontece em até dois anos. A expectativa é que se perca de 30 a 40% do
peso inicial.
5. OS PLANOS DE SAÚDE E O SUS DEVEM COBRIR A CIRURGIA
BARIÁTRICA.
Verdade - Quem depende do SUS para realizar a
cirurgia, porém, pode ter que esperar algum tempo na fila. O Ministério da
Saúde não tem o registro, mas "pode levar até sete anos para o paciente
ser operado", diz Azevedo. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS), que regula os planos de saúde, o período de carência para cirurgia é de
até seis meses.
6. DÁ PARA COMER COMO ANTES E ENGORDAR TUDO NOVAMENTE.
Depende - A pessoa não vai comer como antes, mas
se tomar uma lata de leite condensado inteirinha numa refeição, poderá engordar
novamente sim. "A paciente volta a ganhar peso se consumir alimentos
calóricos, como frituras e açúcares. Mas é raro quem recupera todo o
peso", afirma Ramos.
7. A PACIENTE TERÁ NECESSARIAMENTE DE FAZER PLÁSTICAS
PARA RETIRAR O EXCESSO DE PELE.
Mito - "Com um bom programa nutricional e
atividade física, quem perde de 25 a 35 kg não precisa se submeter à cirurgia,
mas isso varia de acordo com cada paciente", diz Ramos. Ele afirma também
que quem é mais jovem tem vantagens, pois a pele é mais elástica.
8. DÁ PARA FAZER PLÁSTICAS E TIRAR O EXCESSO DE PELE LOGO
APÓS A CIRURGIA BARIÁTRICA.
Mito - Você terá de lidar com o excesso de pele,
em média, por dois anos. "O ideal é que a paciente perca todo o peso
esperado e esteja bem para ser operada novamente", diz o cirurgião Denis
Pajecki.
9. PLANOS DE SAÚDE E O SUS DEVEM COBRIR PROCEDIMENTOS
REPARADORES.
Verdade - Segundo a ANS, os planos só precisam
cobrir plásticas na região do abdômen. E o paciente ainda tem de apresentar
complicações, como candidíase de repetição, infecções bacterianas devido ao
atrito de pele, etc. Tanto no serviço público quanto no privado, é preciso
indicação médica. E não custa dizer: leia o contrato do plano de saúde para não
ter surpresa depois.
10. SÓ EXISTE UM TIPO DE CIRURGIA PARA REDUZIR O
ESTÔMAGO.
Mito - Segundo a Sociedade Brasileira de
Cirurgia Bariátrica e Metabólica, há quatro tipos de técnicas aprovadas no
Brasil. Conheça cada uma delas abaixo.
11. A CIRURGIA BARIÁTRICA É MUITO CARA.
Verdade - Quem pensa em arcar o valor da
cirurgia com grana do próprio bolso terá de pagar, em média, de R$ 20 mil a R$
40 mil. "É preciso pagar a equipe médica e todo o equipamento
cirúrgico", diz Azevedo.
12. É IMPORTANTE O ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO ANTES
E APÓS A CIRURGIA.
Verdade - A avaliação
psicológica é importante para saber se o
paciente tem expectativas reais com relação
à cirurgia , se não está num momento de depressão
ou estresse muito grande ou se tem algum outro problema que possa atrapalhar o
tratamento, explica a psicóloga
Marilice Rubbo de Carvalho. Durante as sessões, é investigado o que levou essa
pessoa a engordar, já que normalmente essas pessoas não fazem a menor ideia. Não adianta fazer a cirurgia se não mudar a estrutura que provocou a obesidade, afirma Marilice. Por isso,
alguns médicos recomendam também que o paciente tenha acompanhamento
psicológico após a cirurgia.
13. A CIRURGIA BARIÁTRICA É MAIS ARRISCADA QUE OUTRAS
CIRURGIAS.
Mito - Segundo Pajecki, durante a operação, os
riscos de complicações, como um problema cardiológico, é igual ao de qualquer
outro procedimento cirúrgico abdominal. No pós-operatórias, complicações leves
e graves ocorrem em 4% dos casos. "Nos primeiros 30 dias, pode haver
sangramento interno, infecções e complicações clínicas, como trombose",
diz. A médica nutróloga Sandra Fernandes afirma que, dependendo da técnica
operatória, podem ocorrer vômitos ou diarreias. A média ou
longo prazo, as complicações
estão ligadas a desnutrição, osteoporose e carência de vitaminas e minerais, afirma.
14. É PRECISO FAZER EXERCÍCIOS APÓS A CIRURGIA.
Verdade - "Os exercícios potencializam o
emagrecimento, evitam o ganho de peso e reduzem a perda de massa
muscular", diz Pajecki.
15. ENGORDAR É UM BOM CAMINHO PARA FAZER A CIRURGIA.
Mito - "Quem quer ganhar 10, 15 kg
rapidamente para se submeter a uma cirurgia põe a vida em risco", diz
Ramos.
16. O APOIO DA FAMÍLIA É ESSENCIAL.
Verdade - Todos que convivem com o paciente
precisam colaborar. Se a família tem uma alimentação gordurosa, não vai dar
para continuar assim! A família deve mudar os hábitos, além de dar apoio e não
fazer cobranças exageradas.
17. AS UNHAS PODEM FICAR QUEBRADIÇAS E O CABELO PODE CAIR
APÓS A CIRURGIA.
Verdade - "Isso pode acontecer nos
primeiros meses, quando a perda de peso é mais intensa. Mas dá para resolver
com suplemento vitamínico", diz Pajecki.
CONHEÇA AS TÉCNICAS DE CIRURGIA BARIÁTRICA
Bypass gástrico: é a técnica mais realizada no país.
O estômago é grampeado e, depois, ligado diretamente ao intestino. "É um
método eficiente e com baixo índice de complicações", diz Pajecki. É
indicada para quem tem cerca de 50 kg de excesso de peso, associados com
diabetes, colesterol e triglicérides alta.
Gastrectomia vertical: a técnica consiste em fazer do
estômago uma espécie de tubo, com capacidade de cerca de 150 ml. Ao reduzir o
espaço, o paciente é obrigado a comer pequenas refeições. "O resultado é
bom, mas não é melhor que o bypass", diz Ramos. É indicada para quem tem
de 30 a 40 kg de excesso de peso, come em grandes quantidades, mas não tem
doenças associadas.
Banda gástrica ajustável: coloca-se um anel de
silicone ajustável no início do estômago, o que desacelera a digestão. "É
cada vez menos usada, pois a perda de peso é menor e demanda muito cuidado pós-operatório",
diz Pajecki.
Duodenal Switch: Assim como na gastrectomia vertical,
o estômago é reduzido. Nesta técnica, aumenta-se o desvio intestinal. O
paciente come menos e o corpo absorve menos alimentos também. A técnica,
indicada para pacientes que tem alguma doença no estômago, é cada vez menos
utilizada nas clínicas, pois o risco de problemas nutricionais, como episódios
de diarreia, é maior.
Fontes: João Luiz Azevedo, membro do
departamento de Cirurgia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp); Almino
Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica
(SBCBM); Dr. Denis Pajecki, diretor do Departamento de Cirurgia Bariátrica da
Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome
Metabólica) ; Sandra Lucia Fernandes, membro da Associação Brasileira de
Nutrologia (Abran); Marilice Rubbo de Carvalho, psicóloga, M
de Mulher