O mês de outubro é dedicado à conscientização das mulheres
sobre a prevenção do câncer de mama. De acordo com dados do Instituto
Nacional de Câncer, este ano devem ser diagnosticados mais de 50 mil casos. E
uma das formas de prevenir o câncer de mama é realizar a mamografia,
que nada mais é do que um raio-X especial que pode detectar estágios do câncer
precocemente, quando o tamanho do tumor é menor.
É importante explicar que a mamografia é uma prevenção
secundária, ou seja, ela rastreia e diagnostica a doença numa fase precoce para
evitar o acometimento e a morbidade. Existem dois tipos de mamografia: a
convencional e a digital, que pode ser CR (Radiografia Computadorizada) e DR
(Radiografia Digital). A DR tem uma visualização melhor do que a CR e ambas as
digitais são mais detalhadas do que a convencional.
Entretanto, as chances de erro neste tipo de exame giram em
torno de 10% a 15% dos casos por vários motivos. Um deles é que os próprios
profissionais de saúde atestam que faltam profissionais de radiologia com nível
de conhecimento suficiente para fazer a leitura dessas mamografias. Outro
é que a mamografia pode trazer falso-negativo (quando tem um nódulo e o
aparelho não detecta) e falso-positivo (quando não tem nada e o aparelho
detecta algo que se confunde com um nódulo).
Dra. Vivian Schivartche, médica radiologista do CDB Premium
(Centro de Diagnósticos Brasil), em São Paulo, explica que na Medicina
não existe exame ou método 100%. "Alguns tipos de câncer de mama são
mais difíceis de ver na mamografia, mas hoje temos a tomossíntese ou mamografia
3D, que detectam esses casos, além do ultrassom e da ressonância magnética. Com
esses métodos, o falso- positivo foi reduzido."
O falso-positivo pode acontecer por sobreposição de
estruturas normais da mama nas imagens. E nesses casos também a tomissíntese, a
ultrassom e a ressonância podem solucionar a dúvida.
Mesmo com as desconfianças a respeito da mamografia, Dra. Vivian garante que ela rastreia e detecta precocemente o câncer de mama, identificando tumores que não são palpáveis. "Estudos científicos mostraram redução na mortalidade por câncer de mama quando se faz o rastreamento mamográfico anual por meio da mamografia", diz. "Um deles, feito em 2011, estimou que o procedimento evita 1.121 mortes a cada 100 mil mulheres rastreadas (entre 50 e 74 anos)", completa.
A especialista aproveita para dizer que a radiação da mamografia não
propicia o surgimento do câncer de mama. E que essa história de que a
compressão da mama pelo aparelho faz o câncer de espalhar é puro mito.
"O risco de desenvolver câncer de mama dessa maneira é
desprezível. E a compressão da mama durante a mamografia é leve e cada imagem
do exame dura segundos. Apenas a compressão não é suficiente para que as
células do tumor se desloquem". E alerta: "O risco de não fazer a
mamografia e notar o tumor apenas quando ele está palpável é muito maior.
Quando ele é palpável, há mais chances de que já tenha se espalhado."
A mamografia é feita anualmente, o que para alguns
especialistas é uma pausa muito longa, dando margem ao chamado câncer de
intervalo. Mas a médica radiologista mais uma vez tranquiliza as
mulheres, alegando que esse tipo de câncer é raro. "Em mulheres que têm
risco aumentado para a doença (têm parentes de primeiro grau com câncer de
mama, já tiveram câncer, tem mutação genética ou fizeram radioterapia do
tórax), podemos fazer ultrassom das mamas e ressonância magnética nos
intervalos dos rastreamentos mamográfico, reduzindo os cânceres de intervalo
nesse grupo."
Outros exames que detectam o câncer de mama
Dra. Vivian aproveita para explicar com detalhes os outros
exames que, assim como a mamografia, ajudam a diagnosticar o câncer de mama:
Ultrassonografia: Este exame não comprime a mama nem
usa raio-X. O aparelho é passado sobre a mama com gel e deve ser usado em
mulheres jovens, em nódulos palpáveis, para avaliar alterações da mamografia e
ressonância. Está indicada para mulheres de alto risco.
Doppler e elastografia: São métodos adicionais do
ultrassom, feitos em aparelho semelhante, sem compressão, que ajudam a decidir
se aquela alteração do ultrassom merece ser biopsiada ou acompanhada.
Ressonância magnética: É indicada no rastreamento
anual de mulheres de alto risco e em alguns casos de alterações da mamografia
ou ultrassom, quando queremos ver a extensão da alteração. A utilização deve
ser estudada caso a caso. Para a realização do exame a mulher entra deitada de
barriga para baixo na máquina e não há compressão das mamas. A ressonância
também é usada para detectar rupturas de próteses mamárias.
Se a mamografia é a prevenção secundária, qual é a
primária?
É a nossa, por meio do toque e do zelo pela saúde. Apesar de
não haver comprovação científica da associação da alimentação ao câncer de
mama, é de conhecimento de todos que uma dieta saudável, rica em frutas,
verduras e legumes, beneficia a saúde.
O que se sabe é que a obesidade é um fator de risco,
principalmente depois da menopausa. Segundo um estudo divulgado pelo diretor da Sociedade
Brasileira de Mastologia, Dr. EduardoMillen, a mulher que
mantém seu IMC (índice de massa corporal) controlado consegue reduzir os
riscos de câncer. Depois de se avaliar 337 mil pacientes chegou-se à conclusão
de que quem estava com IMC maior do que 28kg por metro quadrado tinha
26% mais chance de ter um tumor de mama. E se o IMC era de 29, o risco
aumentava para 29%.
O emagrecimento, por sua vez, tem efeito protetor. Uma perda
de 10 quilos reduz risco de câncer em 57%. "A atividade física também
ajuda na prevenção. Quem faz mais de 10 horas semanais de caminhada reduz os
riscos de desenvolver a doença", explica o especialista.
O diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia
alerta que 90% das mulheres que desenvolvem câncer de mama não têm casos de
doença na família. E na parcela de pacientes que apresentaram a doença por
conta do histórico familiar (10%), 5% tem mutação genética comprovada.
"O câncer de mama também tem relação com o envelhecimento. A população está cada vez mais idosa no país, o que aumenta o risco de tumores, principalmente depois dos 60 anos, por conta da diminuição dos mecanismos de defesa do organismo. É pequeno o número de mulheres que apresentam câncer de mama antes dos 40 anos", diz o médico.
Dr. Eduardo alerta ainda que não há comprovação de que o
fator emocional aumente as chances de surgimento da doença. Claro que problemas
como depressão mexem com a imunidade, mas, cientificamente, não se afirma essa
relação.
Diante de tanta informação, porque as campanhas não fazem
aumentar significativamente o número de exames de exames preventivos no país?
Na opinião do diretor da SBM, isso acontece porque as iniciativas só
mobilizam quem acha que pode desenvolver a doença. Elas não conseguem fazer seu
papel preventivo.
"As campanhas não tocam quem não tem o problema ou
acham que não têm. Por isso, penso que não somente os mastologistas, mas todos
os profissionais da saúde precisam incentivar seus pacientes com mais de 40
anos a fazerem os exames de mamografia. Um cardiologista, por exemplo, não vai
avaliar o exame, mas vai fazer a triagem, lembrar a paciente sobre a
importância do exame", diz o especialista.
O autoexame não dispensa a realização da mamografia anual.
Sem contar que o câncer de mama não causa dor. Se ela existe está associada a
outros problemas. Desse modo, a mulher deve procurar um ginecologista ou
mastologista caso note qualquer alteração das mamas, como nódulo palpável,
descamação do mamilo, secreção espontânea com sangue ou clara como água.
"As mulheres precisam se preocupar em cobrar os médicos
sobre o exame. Às vezes elas estão em dia com as consultas, mas não fazem a
prevenção corretamente. Outro ponto importante é que não adianta fazer campanha
e a mulher não ter acesso à mamografia. Por isso, elas também devem cobrar das
autoridades o direito a realizar seus exames preventivos", finaliza Dr.
Eduardo.
Fonte: Vilamulher
Por Juliana Falcão (MBPress)