Para algumas pessoas, ler "casamento amaldiçoado"
é o mesmo que ler "deserto do Saara", ou "subir para cima".
Não importa o quanto elas pensem no assunto, não existe lógica em se casar.
Diabos, se um casamento fosse algo positivo, não precisaria de testemunhas.
Por outro lado existem aquelas pessoas que praticamente
vivem para o dia de suas bodas, o casamento acaba se tornando um dos momentos
mais importantes que vão participar, e não apenas porque tecnicamente elas vão,
naquele dia, criar laços eternos com quem julgam ser o amor de suas vidas, mas
sim porque serão o equivalente dos Irmãos Gibbs durante um show dos BeeGees.
Todos os convidados, especialmente arrumados para a ocasião, irão testemunhar o
espetáculo que a pessoa protagonizará, aguentarão horas se sentando e se levantando,
e observando a pessoa e no final, se tiverem a chance, irão correndo cumprimentá-la.
Não é de se admirar que para essas pessoas o dia do casamento é algo que pode
ser comparado apenas com uma viagem ao inferno. Será que vai dar tudo certo?
Será que os convidados vão se comportar? Meu futuro marido vai ficar bêbado e
se pegar com aquela vagabunda do Buffet? E se eu me cagar subindo ao altar?
A única coisa que podemos dizer para essas pessoas que
talvez possam reconfortá-las é que não importa o que dê de errado ou o quão
bêbado o padre apareça para realizar a cerimônia ou a cara que as pessoas façam
quando a noiva resolver chamar todos para dançar a macarena, nenhum casamento
vai ser pior do que o de Maria Vitória dal Pozzo, a 6a princesa della Cisterna.
Assim que o Príncipe Amadeo de Saboia anunciou que pretendia
se casar com Maria, o Rei Victor Emmanuel II, da Itália, logo de cara se
mostrou contra o casamento por diversos motivos. Para começo de conversa ele
achava que seu elegante herdeiro poderia ter arranjado algo melhor do que se
tornar o consorte de uma duquesa. Em segundo lugar, a esposa escolhida por seu
filho não era de origem real. Podemos ver de cara que o Rei Victor era um cara
de altos padrões.
Mesmo assim, como todo bom filho rebelde, o Príncipe Amadeo
I se casou com a Princesa Maria no dia 30 de Maio de 1867 em um evento que pode
ser chamado, sem falsa modéstia, de o mais amaldiçoado casamento em toda a
história humana!
Se fôssemos fazer um registro do dia do casamento ele seria
mais ou menos assim:
30 de Maio, Dia do Casamento
Logo cedo descobrimos que a mulher responsável pelo vestido
da adorável noiva cometeu um erro, ao invés de pendurar o vestido para que ele
estivesse fresco para a cerimônia ela se dependurou pelo pescoço, morrendo logo
em seguida. A noiva parece tensa e está pedindo para se casar usando outro
vestido.
Resolvemos o problema do vestido e partimos do castelo para
a igreja onde a cerimônia aconteceria pena que no caminho o coronel que
liderava a procissão de membros da corte e da família real caiu de seu cavalo,
o sol forte que julgávamos ser uma bênção para o casal acabou por matar o pobre
homem de insolação.
Arranjamos um novo homem para guiar a corte e a família,
infelizmente os portões do palácio, por algum motivo, se recusam a se abrir.
Estamos procurando o porteiro real, responsável pelo portão.
O porteiro real foi encontrado. Infelizmente ele estava
morto, caído em uma enorme poça de sangue, presumivelmente seu próprio sangue.
As pessoas estão começando a ficar nervosas.
O casamento foi maravilhoso, todos ficaram emocionados,
ninguém realmente entendeu porque o padrinho então resolveu, na frente de
todos, disparar um tiro contra a própria cabeça. Ainda bem que isso aconteceu
depois da cerimônia, não sei se conseguiríamos encontrar uma segunda igreja caso
a noiva novamente implicasse em ter alguém morto envolvido diretamente com o
casamento.
Uma pena a morte do padrinho, isso fez com que a festa
terminasse de forma prematura, todos rumaram para a estação de trem então, o
problema é que o cavalheiro que preparou a papelada do casamento sofreu de um
ataque apoplético. Ataque apoplético é apenas a maneira educada de se dizer
"hemorragia interna massiva", que geralmente ocorre no cérebro. Não é
preciso dizer que esse tipo de ataque quase sempre resulta na morte de quem o
sofre. Acredito que isso poderia chocar a todos, mas como logo em seguida o
responsável pela estação de trem foi atropelado pela carruagem real não houve
muito tempo para lamentarmos a morte do escriturário.
Acredito que o Rei Victor tenha tomado a decisão sábia de
simplesmente cancelar a viagem coletiva de trem, mandando que todos voltassem
para suas casas. Ele também acabou saindo de fininho, talvez com medo de que os
deuses percebessem que ainda havia alguém que tivessem se esquecido de matar.
Acredito que cinco mortes no dia do casamento é algo horrível
de se lembrar, mas não tão horrível quanto 6 mortes, já que logo após o
episódio na estação o infeliz Conde Cagliostro também acabou se enfiando
debaixo da carruagem real. Os médicos apenas disseram que as rodas
"esmagaram sua nova Anunciação de Ordem em seu peito, ferindo-o além de
qualquer esperança". Poucas pessoas imagina que isso simplesmente
significa que ele teve seu medalhão enfiado a força coração adentro.
Assim termina este dia de casamento, que Deus tenha piedade
de nós.
Claro que tanta desgraça com certeza não iria parar por ali
e assim, dez anos depois a Princesa Maria acabou morrendo, aos 29 anos, de
complicações do parto de seu bebê.
Fonte: Morte
Súbita