Era questão de tempo. Todos nós, cinéfilos de carteirinha ou
de final de semana, já sabíamos que a era das videolocadoras tinha
passado e que as poucas sobreviventes, pouco a pouco, seriam apagadas do mapa –
mais ou menos como os cinemas de rua. Mas o anúncio do encerramento das
atividades da Blockbuster, feito na última quarta-feira, foi como a estaca que
faltava para entendermos que, sim, os tempos mudaram.
Não que a rede não tivesse seus defeitos: lá, era
praticamente impossível, por exemplo, descobrir aquele filme inesperado,
esquecido no fundo da prateleira, que ninguém ainda assistiu. Seu perfil era
mais o de uma “Cinemark” das locadoras, pioneira entre as grandes redes de
aluguel de filmes e jogos mainstream. De qualquer forma, era o elo mais forte.
A notícia nos faz voltar no tempo e repensar a forma como
consumimos filmes – será que o fato de não termos mais aquelas prateleiras de
possibilidades e as indicações (quase) infalíveis dos vendedores muda alguma
coisa? Enquanto pensamos nisso, é hora de dar algumas risadas nostálgicas
lembrando as situações típicas que todo frequentador de locadoras já viveu:
Escolhendo o filme pela capa
É como escolher um livro. Você pode nunca ter ouvido falar
naquele diretor, ou nunca ter visto nenhum dos atores estampados ali, mas
alguma coisa naquela imagem o faz pegar a embalagem na mão e, instintivamente,
virá-la. No verso, frases de efeito talhadas pelos jornais (“o filme mais
arrepiante do ano” ou simplesmente “intrigante”) e um resumo nem
sempre esclarecedor da história. Seja o que deus quiser.
Planejando o final de semana
Chegou a sexta-feira! Hora de ligar para aquele
amigo/namorado companheiro de sofá e partir para a locadora. Um filme por
dia? Dois? Três? Maratona temática ou aleatória? O desafio é extrair o
máximo do cartão-fidelidade e terminar o domingo com os olhos ardendo.
Primeiro encontro na locadora
Vocês estão saindo há um mês, seus gostos são parecidos (ou
vocês dizem que são), tudo é perfeito. Até que chega a hora de escolher o
filme. E aí, você vai admitir que gosta mesmo é de “Duro de Matar”? E você, vai
ter coragem de pegar aquele drama-cabeça que estava querendo assistir há
semanas? Será que uma comédia romântica vai impressionar a garota? Da próxima
vez, vão a um restaurante.
Atendentes gente-boa
Havia dois tipos de pessoas que trabalhavam em locadoras: os
cinéfilos, que conheciam QUALQUER filme que você tirasse da prateleira (e que
provavelmente lançariam aquele olhar de reprovação caso você pegasse o último
filme do Eddie Murphy); e os simpáticos, que não sabiam nada de cinema, mas
gostavam de conversar com os clientes. Nos dois casos, sempre havia aquele
atendente mais íntimo, com quem você podia se abrir sobre seus gostos
cinematográficos... E outras coisas.
Figurinha repetida
Quem nunca teve aquele filme do coração, alugado tantas
vezes que o vendedor chegou a perguntar se você não queria comprar o DVD? A
verdade é que a emoção toda estava em NÃO ter a cópia, não é mesmo? Quando você
finalmente comprou, ela ficou esquecida na sua prateleira.
Pipoca e guaraná
Um dos problemas de alugar filmes pela internet (ou pela TV)
é ter que pensar na pipoca com antecedência. Quem se lembra dela na hora de
fazer as compras do mês? As locadoras – elas sim entendedoras do assunto – não
deixam você esquecer os quitutes do noitão e ainda ajudam a cliente deprimida a
se sentir a própria Bridget Jones, com aqueles potes de sorvete no caminho da
saída.
A conquista do lançamento
Se encontrar filmes diferentes era um prazer especial para
os freqüentadores assíduos de locadoras, alugar o lançamento do mês no primeiro
final de semana era quase como ganhar um Oscar. Afinal, todos tiveram a mesma
ideia que você. Por isso, a dica era passar antes da sexta-feira e garantir o
seu, ou segurar a ansiedade e assistir só na semana seguinte – isso, se tiver
sorte.
Cineclube depois da escola
Depois de passar vários finais de semana caçando raridades,
eventualmente você descobre algo realmente bom. Então, o que fazer com ele? Ao
invés de assistir (ou reassistir) sozinho, por que não mostrar a novidade aos
seus amigos? Aos poucos, a sessão cinéfila vira rotina e cada um da turma
começa a levar seus “achados” também.
Momento-família
Você pode ter um gosto totalmente diferente de sua irmã ou
de seu pai para cinema, mas o fato é que, uma vez por semana, a família inteira
se sentava à frente da TV para assistir ao filme da semana. Difícil era
escolher na locadora com tantos palpites!
Fonte: Guia
da semana