A Fundação Edge, nos EUA, perguntou aos 151 maiores
cientistas e experts do mundo: Qual é a descoberta, ou invenção, que vai
transformar a humanidade? Nós selecionamos as 10 melhores respostas. Depois de
lê-las, sua cabeça jamais será a mesma.
O cruzamento entre homem e animal
Richard Dawkins, biólogo - Universidade de Oxford
Richard Dawkins, biólogo - Universidade de Oxford
Um cruzamento bem-sucedido entre homem e chimpanzé. Isso é
um enorme tabu, mas não é impossível. Poderíamos criar um embrião experimental.
Mesmo que gerasse uma criatura estéril, como o jumento, isso teria um impacto
salutar sobre a sociedade, pois nos faria redefinir o que vem a ser humano.
Hoje, nós encaramos as células humanas como se elas tivessem algo de especial
ou sagrado, e fossem eticamente diferentes das células animais (mesmo quem é
contra a eutanásia em humanos, por exemplo, não se oporia a colocar para dormir
um bichinho de estimação que estivesse sofrendo). E isso vai contra a Teoria da
Evolução. Mas uma demonstração prática da evolução, com o cruzamento entre
homem e chimpanzé, mudaria tudo. Como já conhecemos inteiramente o DNA do homem
e do chimpanzé, outra possibilidade é usar a engenharia genética para
reconstruir nosso ancestral comum. Traríamos o australopiteco de volta à vida.
E isso poderia (posso dizer que vai?) mudar tudo.
Aliens vivendo na Terra
Paul Davies, físico - Universidade do Arizona
Paul Davies, físico - Universidade do Arizona
Charles Darwin, 150 anos atrás, nos deu uma teoria
convincente sobre a evolução. Mas a origem da vida continua sendo um dos
maiores mistérios de todos os tempos. Os cientistas estão convencidos de que
todas as espécies têm a mesma origem e fazem parte de uma só linha evolutiva.
Mas e se não tiver sido assim? E se a vida na Terra tiver começado não uma, mas
duas (ou várias) vezes? Eu acho bastante provável que o nosso planeta possua
uma segunda biosfera, com criaturas que surgiram e evoluíram à parte das
espécies que conhecemos; o produto de uma segunda gênese. Esses organismos
aliens podem estar em nichos onde a vida como a conhecemos não poderia existir,
devido ao excesso de calor, frio, acidez ou outras variáveis. Também podem
estar bem debaixo do nosso nariz - ou até dentro dele. E, se a vida pôde
começar duas vezes na Terra, isso torna bem mais provável que exista também em
outros lugares. Descobrir a segunda biosfera nos daria propriedade para
afirmar: não estamos sozinhos no Universo.
Vida Artificial
Craig Venter, geneticista - Mapeou o DNA humano
Craig Venter, geneticista - Mapeou o DNA humano
Nós seremos capazes de criar DNA. Na verdade, eu e meus
colegas já fizemos isso - nós fabricamos um cromossomo de bactéria em
laboratório. No futuro, a humanidade vai projetar seres vivos para realizar
tarefas específicas: microorganismos cujo único propósito seja fabricar
combustível ou eliminar a poluição ambiental, por exemplo. O DNA é o resultado
de 3,5 bilhões de anos de evolução da vida na Terra. O domínio sobre ele vai
mudar nossa maneira de ver a vida. E a própria definição de vida.
"A ciência vai prolongar a juventude do cérebro - e os
adultos serão capazes de aprender com a mesma facilidade das crianças."
Alison Gopnik, psicóloga - Universidade de Berkeley
Alison Gopnik, psicóloga - Universidade de Berkeley
A destruição de todos os computadores
Anton Zelinger, físico - Universidade de Viena
Anton Zelinger, físico - Universidade de Viena
Um dia, todos os circuitos eletrônicos do mundo serão
destruídos. Não haverá eletricidade nem água. Os carros e celulares vão deixar
de funcionar. E ninguém poderá acessar a internet para saber o que aconteceu. A
causa dessa catástrofe será um gigantesco pulso eletromagnético, gerado pela
explosão de uma bomba atômica no espaço. A menos que nos livremos de todas as
armas nucleares, o que é extremamente improvável, isso vai acontecer.
O fim do trabalho
Ed Regis, escritor - Autor de 8 livros sobre ciência
Ed Regis, escritor - Autor de 8 livros sobre ciência
E se fosse possível criar máquinas microscópicas, capazes de
produzir objetos de qualquer tamanho, e de qualquer tipo, a partir do zero?
Elas seriam programadas para fazer um carro, um barco ou uma nave espacial
sozinhas, sem precisar de ajuda - só um fluxo constante de alguns elementos
muito simples, como luz, oxigênio e carbono. A ideia soa absurda, mas só até
você perceber que objetos tão grandes e tão complexos quanto as baleias, os
dinossauros e os humanos se formaram assim - começaram como estruturas muito
simples, que foram se duplicando e modificando sozinhas. As fábricas do futuro
funcionarão sozinhas, e vão deixar tudo tão barato que a pobreza vai acabar.
Isso só levanta um problema. O que as pessoas, libertas de seus trabalhos, vão
fazer com todo o seu tempo livre?
5ª dimensão
Gino Segrè, físico - Universidade da Pensilvânia
Gino Segrè, físico - Universidade da Pensilvânia
A Teoria da Relatividade revolucionou a ciência, mas mudou
muito pouco no dia-a-dia das pessoas. Se no futuro descobrirmos que existem
outras dimensões [além das 3 que constituem o espaço e uma que representa o
tempo], isso terá um efeito profundo na psique humana - nos dará a confiança de
que fenômenos inimagináveis estão por ser descobertos. Hoje, as teses mais em
moda entre os físicos, como a Teoria das Supercordas, presumem a existência de
outras dimensões. A busca já começou, e estão surgindo estudos interessantes a
respeito, que também podem encontrar a chamada matéria escura [um componente
misterioso do Universo]. Os desafios serão enormes, mas as recompensas também.
A genética das raças
Jonathan Haidt, psicólogo - Universidade da Virgínia
Jonathan Haidt, psicólogo - Universidade da Virgínia
Hoje, a ideia de que as diferenças comportamentais entre
grupos étnicos possam ter alguma base genética é considerada ofensiva. Mas,
conforme o genoma das pessoas for sendo decodificado, nós vamos encontrar
dezenas ou centenas de diferenças entre as etnias. A constatação de que grupos
diferentes adquirem determinadas virtudes de maneira diferente, e que isso tem
fundamentos genéticos, é o que vai mudar tudo. E deverá detonar uma guerra
entre os cientistas na próxima década - que fará as discussões dos anos 1990,
com o debate sobre a “curva do sino” [tese que defendia uma explicação genética
para a diferença de QI entre povos], parecer pequenas. Mas espero que cheguemos
a um consenso: a ciência não é
racista. E que as (muitas) qualidades e (poucas) fraquezas
das etnias, como as dos indivíduos, sejam reconhecidas como dependentes do contexto
em que vivem.
Telepatia
Freeman Dyson, físico - Universidade de Cambridge
Freeman Dyson, físico - Universidade de Cambridge
No final do século 21 será inventado um microimplante
neurológico, com 100 mil circuitos, que permitirá transmitir pensamentos,
sentimentos e ordens de um cérebro para outro. Isso será um grande instrumento
de mudança social - para o bem e para o mal. A telepatia poderá ser a base do
entendimento entre as pessoas e da paz mundial, ou um forte instrumento de
opressão. Para evitar abusos, teremos leis defendendo um novo direito humano: o
de desligar o chip telepático a qualquer momento.
A química das emoções
Helen Fisher, bióloga - Universidade Rutgers
Helen Fisher, bióloga - Universidade Rutgers
Segurar a mão de alguém gera uma sensação de confiança -
porque estimula a produção do hormônio ocitocina. Quando você vê uma pessoa
rindo e tem vontade de sorrir também, é por causa de um tipo de circuito
cerebral: os neurônios-espelho. Num beijo de língua, a saliva fica carregada de
testosterona (que estimula o desejo sexual). Nós já começamos a descobrir o que
move as emoções humanas. No futuro, vamos entender os mecanismos que regem
todos os nossos desejos e sentimentos. Isso levará à criação de um novo arsenal
de substâncias químicas, que cada vez mais as pessoas usarão para manipular sua
própria mente. E, ao mudar as mentes, uma de cada vez, vamos mudar tudo o que
existe.
Fonte: Superinteressante