O Rei do Gado teria sido uma novela amaldiçoada?

Novela de maior audiência dos últimos 20 anos e marco na teledramaturgia da Globo, O Rei do Gado voltou ao ar nesta segunda (12), 18 anos depois de sua estreia. Segundo dados preliminares, marcou 14 pontos na Grande São Paulo, quase o triplo da Band, segunda colocada no horário. Responsáveis por grande parte do sucesso da novela, muitos dos atores do elenco, como Patrícia Pillar, Fábio Assunção, Glória Pires, Carlos Vereza e Leila Lopes, enfrentaram dificuldades e tiveram de superar grandes obstáculos em suas vidas pessoais.

Fábio Assunção e Vera Fisher, por exemplo, tiveram seus problemas com a dependência química revelados nos anos que seguiram ao final da novela. Já a atriz Leila Lopes, sem conseguir emplacar outro papel de sucesso, teve depressão e, em 2009, acabou com a própria vida. 

Nem o autor da novela, Benedito Ruy Barbosa, escapou das dificuldades: enquanto escrevia a história teve uma grave crise na coluna, o que o levou a atrasar a entrega dos capítulos à emissora. Além disso, dez anos depois de lançar O Rei do Gado, ele sofreu um AVC (acidente vascular cerebral), do qual se recuperou sem sequelas.

Esta é a segunda vez que a trama, que teve 52 pontos de média por capítulo em sua primeira exibição, vai ao ar no Vale a Pena Ver de Novo (a outra foi em 1999). Considerada uma das obras mais marcantes da TV brasileira, O Rei do Gado conta a história de amor do pecuarista Bruno Mezenga (Antônio Fagundes) e da boia-fria Luana (Patrícia Pillar), descendentes de famílias rivais de imigrantes italianos, os Mezenga e os Berdinazi. Nas duas primeiras semanas, ela será exibida depois da reprise de Cobras & Lagartos.

A importância da novela ultrapassou a ficção, tornando-a relevante para a história do Brasil: ela discutiu a reforma agrária e a disputa de terras entre agricultores autônomos e grandes latifundiários, mostrando abusos dos dois lados no momento em que o Movimento dos Sem-Terra (MST) intensificava suas ações pelo país, e também denunciou a corrupção na política, gerando polêmica e despertando reações de movimentos sociais, fazendeiros, empresários e políticos.

Passado o sucesso da trama, alguns atores continuaram em evidência, não pelo trabalho, mas por situações desagradáveis que tiveram de enfrentar em suas vidas pessoais. De doenças graves, como câncer e depressão, à dependência de drogas e boatos de traição, as estrelas da novela passaram por poucas e boas. Confira alguns dos percalços enfrentados pelo elenco de O Rei do Gado:

Mortes

O ator Raul Cortez, na pele do cafeicultor Geremias Berdinazi, na novela O Rei do Gado

Depois de dar vida ao personagem mais marcante de sua carreira, o fazendeiro Geremias Berdinazi, em 2004 o ator Raul Cortez foi diagnosticado com um câncer na região abdominal. Lutou contra a doença, mas morreu cinco anos depois, aos 73 anos. 

Leila Lopes foi capa da Playboy em 1997 graças ao sucesso de sua personagem, Suzane

Depois de estourar no papel de Lu na novela Renascer (1993), a atriz Leila Lopes ganhou status de símbolo sexual em O Rei do Gado, por causa de sua personagem Suzane, casada com Orestes (Luiz Parreiras) e amante de Ralf (Oscar Magrini). Sem conseguir outro papel de destaque após a novela rural, ela enfrentou uma grave depressão nos anos seguintes e foi encontrada morta em 2009, em sua casa, em São Paulo.

Doenças

Patrícia Pillar em cena como a boia-fria Luana, protagonista da novela O Rei do Gado

A atriz Patrícia Pillar, intérprete da boia-fria Luana, que na trama vivia em um acampamento de sem-terra, foi vítima de um tipo raro de câncer de mama, descoberto em 2002. Ela travou uma corajosa luta conta a doença, recuperando-se. Seu papel mais recente na TV foi Angela Mahler, na novela O Rebu (2014).

 Luciana Vendramini posa como a prostituta Marita da novela, amante de Ralf (Oscar Magrini)

Luciana Vendramini nunca mais foi a mesma depois de interpretar a garota de programa Marita em O Rei do Gado. Alguns anos depois da novela, ela foi diagnosticada com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e ficou um bom tempo afastada da TV. Seu trabalho mais recente foi na novela Amor e Revolução, do SBT, em 2011.

Outros problemas

A atriz Vera Fisher, em cena da primeira fase de O Rei do Gado, no papel de Nena

A luta de Vera Fisher contra o alcoolismo e a dependência de drogas é bem conhecida e suas complicações vieram à tona logo depois de O Rei do Gado. Em 1997, ano em que a novela acabou, ela ficou oito semanas internada em uma clínica de Santa Tereza, no Rio, para se tratar. Seu último papel em novelas foi Irina, em Salve Jorge (2013).

Fábio Assunção interpreta o playboy Marcos, filho de Bruno Mezenga (Antonio Fagundes)

O ator Fábio Assunção, que hoje faz sucesso como Jorge da série Tapas & Beijos, também teve problema de dependência química depois de atuar em O Rei do Gado. Na trama, ele deu vida ao filhinho de papai Marcos, que se envolvia com Liliana, personagem de Mariana Lima. A história do ator com as drogas ficou conhecida em 2008, quando ele teve de ser afastado da novela Negócio da China para fazer tratamento. 

Carlos Vereza fez sucesso como o senador Caxias, papel que interpretou na novela O Rei do Gado

O senador Roberto Caxias foi, sem dúvida, um dos personagens mais marcantes da carreira do ator Carlos Vereza. Ele, que antes do papel, em 1990, sofreu um acidente de trabalho quando gravava a série Delegacia de Mulheres (Globo), o que compromereu sua audição, converteu-se ao espiritismo e, há três anos, declarou à imprensa ter visto discos voadores da varanda de seu apartamento. Na época, ele contou que a primeira em que viu os OVNIs foi em 1997, ano em que O Rei do Gado chegou ao fim.

Glória Pires, no papel de Rafaela, farsante que se passa por Marieta, sobrinha de Berdinazi

Depois de sua participação em O Rei do Gado, a atriz Glória Pires foi a que se envolveu em uma das maiores polêmicas: em 1998, um ano depois do final da novela, surgiram boatos de que ela havia tentado o suicídio após descobrir que seu marido, o cantor Orlando Morais, tivera um caso com sua filha, Cléo Pires. Na época, a atriz foi à TV desmentir a história. Superado, o caso foi comentado por ela em sua biografia, 40 Anos de Glória, lançada em 2010. 

Fonte: Tribunahoje