Tris, Four e todas as facções que o público conheceu em
“Divergente” estão de volta aos cinemas na primeira sequência, “Insurgente”.
O filme deveria marcar o meio da saga, mas, como já virou regra entre séries
milionárias adolescentes, o último episódio será dividido em dois, retardando o
clímax e criando aquela longa e sonolenta jornada de preliminares.
O filme inicial apresentou a estrutura política de uma
Chicago destruída, segmentada “para o bem de todos” de acordo com as aptidões
de cada cidadão – deixando quem não se encaixasse às margens da sociedade. A
heroína Tris, interpretada por Shailene Woodley, descobriu que se encaixava até
demais, contendo características de todas as facções e sendo considerada
“divergente”.
Em “Insurgente”, Tris e seu namorado Four (Theo James)
aparecem vivendo às escondidas, tentando reunir os outros integrantes da Audácia
para atacar a Erudição, facção comandada por Jeanine (Kate Winslet) que
dizimara, ainda no primeiro longa, o grupo do qual faziam parte os pais de
Tris. Paralelamente, Jeanine procura um divergente capaz de abrir uma caixa
que, ela acredita, trará legitimação a todas as suas maldades. A essa altura,
você já deve ter adivinhado o final.
Se a disputa de poder soa natural em qualquer história, a postura
dos protagonistas destoa radicalmente do que se esperaria de heróis
adolescentes – modelos de comportamento, em geral. Do primeiro para o segundo
filme, Tris ficou mais violenta e arrogante, matando sem pensar duas vezes e
mostrando desdém por qualquer pessoa mais velha, que tente lhe ensinar alguma
coisa. Já Four, belo e vazio, perdeu sua identidade de líder e passou a se
preocupar exclusivamente com as vontades da amada.
Quem manteve a coerência, ironicamente, foram os personagens
de índole menos nobre: Peter (Miles Teller), Caleb (Andel Elgort) e a própria
Jeanine. O primeiro continua jogando conforme a conveniência; o segundo se
mantém fiel ao seu senso de moral, mesmo que isso contrarie todos os outros
sensos; e a terceira permanece ingênua, cavando a própria ruína a cada decisão.
Novas personagens aparecem para dar algum frescor à trama:
Octavia Spencer vive a líder da Amizade, Johanna, e Naomi Watts interpreta a
líder dos sem-facção, Evelyn, que promete ter um papel bem mais relevante no
terceiro filme e pode vir a salvar a trilogia.
As duas ajudam a dar um pouco de humanidade ao longa, que
ameaça se afundar em cenas de ação sem sentido. É compreensível que o público
queira ver lutas e perseguições, mas essas chegam sem aviso, como se o diretor
quisesse compensar a falta de bons diálogos colocando seus atores para correr.
Se “Divergente” já levantara dúvidas sobre o potencial dos
livros de Veronica Roth nos cinemas, “Insurgente” deixa claro que seus
personagens não têm a densidade necessária para sustentar uma franquia tão bem
sucedida quanto aquelas que a inspiraram. Será que os próximos filmes
surpreenderão?
“Insurgente” chega aos cinemas hoje, 19 de março.
Fonte: Guiadasemana
por Juliana Varella redatora