Você já saiu do cinema arrependido de não ter reparado
naquele detalhe que todos os seus amigos viram, ou não ter prestado mais
atenção àquela frase do início, que dava uma dica do que aconteceria no final?
E já aconteceu de ter assistido novamente a um filme e mudado totalmente sua
percepção?
Não é por acaso. Certos filmes realmente não deveriam ser
vistos apenas uma vez, pois ficam ainda melhores na segunda ou até na terceira
investida.
Confira 10 longas que merecem ser vistos e
revistos:
O Sétimo Selo (1957)
O clássico de Ingmar Bergman não é exatamente uma obra
fácil de digerir, mas uma segunda assistida pode ajudar a decifrá-lo. O filme
mostra um cavaleiro medieval que retorna das Cruzadas, só para encontrar a
Suécia devastada pela peste. No caminho, ele conhece a Morte (de carne e osso)
e a desafia para uma partida de xadrez, tentando ganhar tempo para responder a
algumas questões existenciais antes de partir. Ele quer saber se realmente
existe um Deus, mas tudo o que vê é o fanatismo religioso que gera a
glorificação do sofrimento, a negação da ciência, abusos de autoridade e
imoralidade. Mas afinal, qual é a resposta? Veja de novo.
Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994)
O gosto de Tarantino por tramas não-lineares encontra sua
expressão mais completa no clássico pop “Pulp Fiction”. Na primeira vez que se
assiste ao filme, percebem-se as várias histórias cruzadas e uma cena em
especial, quando um dos protagonistas é morto, leva o espectador a questionar a
ordem dos acontecimentos. Para organizar esse mosaico, o ideal é assistir mais
uma vez.
Clube da Luta (1999)
“Clube da Luta” não precisa de uma segunda chance por ser
difícil ou enigmático, mas sim porque, depois de assistir uma vez, você vai
querer voltar a ele com outros olhos, agora conhecendo o final. O divertido é
tentar captar todas as pistas que indicavam que aquele seria o desfecho, e que
na primeira vista tinham passado despercebidas.
O Sexto Sentido (1999)
Assim como “Clube da Luta”, “O Sexto Sentido” também tem
aquele final-surpresa que faz com que a segunda vez seja completamente
diferente da primeira. Sabendo o que acontece, você passa a procurar evidências
ao invés de se preocupar com a história em primeiro plano.
A Vila (2004)
Você provavelmente ficou decepcionado quando assistiu a
“A Vila” nos cinemas. Isso é porque o filme, só por ser dirigido por M. Night
Shyamalan, foi vendido como um terror, ideia que fica difícil de comprar quando
se vê os “monstros” em cena e, especialmente, quando se encara a cena final.
Mas dê uma segunda chance, pensando por outra perspectiva: e se o filme, na
verdade, não estiver falando de fábulas e criaturas fantásticas, mas sim de
utopia, ignorância e do medo do Outro (mesmo que esse “outro” seja a
maioria)?
O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças
(2004)
Há muito o que absorver em “O Brilho Eterno...”. Na
primeira vez em que se assiste ao filme, é preciso prestar atenção à intricada história
de amor entre Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet), que, depois de
brigarem tantas vezes, decidem deletar um ao outro de suas mentes –
literalmente. Para ajudar, o roteiro não segue uma ordem cronológica e é
preciso montar o quebra-cabeças para entender quem está apagando quem e quando.
Depois de feito isso, porém, ainda resta toda uma história em torno dos dois,
envolvendo os personagens coadjuvantes e suas próprias memórias. Portanto,
assista uma vez para se deixar tocar, mas repita a experiência para compreender
todos os detalhes e não deixar escapar nada.
Deixa ela entrar (2008)
Se você já assistiu à adaptação sueca do livro, sabe que
esta é uma história delicada e com alguns mistérios, mas que não apresenta
grandes desafios. O que você pode não ter reparado, porém, é que existe uma
cena, que não dura mais do que um segundo, na qual a vampira Eli (Lina
Leandersson) troca de roupa na frente de Oskar (Kåre Hedebrant) e revela uma
cicatriz onde deveria ficar seu órgão genital. No livro, fica muito mais claro
qual era esse órgão quando ela (ele?) ainda era humana, mas o filme deixa essa
questão em aberto, levando a discussão sobre diferenças e moralidade a outro
nível. Não acredita? Assista novamente e tire suas conclusões.
O Teorema Zero (2013)
Terry Gilliam nunca é um artista fácil de decifrar e “O
Teorema Zero” parece tentar de todas as formas ser seu trabalho mais difícil.
Na superfície, o filme mostra um homem (Christoph Waltz) que se refere a si
mesmo no plural e tem a missão de resolver um teorema que provaria que não há
sentido na vida – tudo isso enquanto, pessoalmente, ele acredita tanto num
sentido que vive esperando um telefonema de Deus com a resposta. Essa
interpretação já levanta uma série de dúvidas, mas existe ainda uma segunda
teoria que dá um significado totalmente novo à ambientação e aos personagens:
aquele universo, ao invés de futurista, poderia ser uma representação física da
internet. Assista de novo com isso em mente.
O Congresso Futurista (2013)
Se você conseguir resistir ao delírio que é “O Congresso
Futurista” uma vez, provavelmente precisará de uma segunda dose para absorver
toda a poesia furiosa de Ari Folman em seu filme-protesto contra a indústria
cultural. O longa tem múltiplas camadas (inclusive, é metade animado) e mostra
Robin Wright interpretando uma versão ficcionalizada de si mesma: uma atriz de
meia-idade que começa a enfrentar os preconceitos de Hollywood. Precisando do
dinheiro para cuidar do filho doente, ela aceita ter seu corpo e suas
expressões escaneados para que os estúdios explorem sua imagem eternamente
jovem pelos próximos vinte anos. A crítica vai cada vez mais fundo e, em
determinado momento, todo o universo se transforma numa animação induzida por
drogas. Sim, é difícil, mas vale o esforço.
O Homem Duplicado (2013)
Você provavelmente já assistiu a vários filmes sobre
personagens duplos, mas nenhum vai te deixar tão confuso – e curioso – quanto
“O Homem Duplicado”. Baseado num romance de José Saramago, o longa mostra dois
homens idênticos (Jake Gyllenhaal) com personalidades opostas, cujas vidas se
cruzam, influenciando especialmente suas relações amorosas. A premissa parece
relativamente simples, mas a construção é complexa e cheia de entrelinhas. Na
primeira vez que assistir, deixe-se levar pelas paranoias dos protagonistas. Na
segunda vez, repare na linha do tempo, que pode não ser tão linear quanto você
pensava, e tente descobrir qual dos dois personagens é o verdadeiro (se é que
há uma resposta única). Na terceira vez, pense apenas nas aranhas.