Quando os filhos se descontrolam, a gente precisa se segurar
para não pirar junto. Acredite, é possível transformar essa tempestade em
calmaria. Quando vocês chegaram ao parquinho estava tudo bem. Ele estava brincando
com um sorriso de orelha a orelha. Mas foi só dizer: “vamos embora” que o
semblante feliz foi substituído por uma cara amarrada e testa franzida. Os
pulos e a corrida pela grama deram lugar aos chutes no ar e braços cruzados.
Crianças sentem raiva e não têm vergonha assumir. Quem fica sem jeito é a
gente. E ai, como acalmamos essas ferinhas?
Primeiramente é preciso entender que a raiva é uma reação
fisiológica normal que nos acompanha ao longo da vida e provém das frustrações
que sentimos. Bebês manifestam raiva, por exemplo, quando estão com fome,
cansados ou precisando de colo. A medida que vão se desenvolvendo, os motivos
que provocam raiva e a forma como essa sensação é expressada também mudam. E ao
invés de simplesmente chorarem, passam a bater o pé, discutirem, fazerem manha
e até mesmo adotarem atitudes agressivas.
Talvez essa informação incomode um pouco, mas tentar
reprimir a raiva das crianças não é uma atitude educativa. Calma. Isso não quer
dizer fechar os olhos quando os filhos estiverem tento um ataque de fúria no
meio do supermercado e ameaçando derrubar a prateleira de bolachas. Uma atitude
construtiva é incentivar que eles expressem os motivos de sua insatisfação.
“O que os pais podem fazer é explicar aos filhos que esse
sentimento que está se manifestando é a raiva, que é normal e que o melhor a
fazer com essa sensação é expressá-la, mas sem fazer birra ou magoar outras
pessoas”, explica a psicóloga e psicopedagoga Andreia Calçada, mãe de João
Pedro.
A melhor forma de fazer isso é incentivar seu filho a falar
sobre o que ele está sentindo. Em seu livro “O segredo das Crianças Felizes, o
terapeuta familiar Steve Biddulph, explica que os pais podem ajudar as crianças
a ligarem seus sentimentos com os motivos. “Crianças pequenas sempre vão precisar
de auxílio para lembrarem o que deu errado. Para isso pergunte, por exemplo, se
ela está brava porque precisa ir embora do parquinho. Dessa forma, eles vão
assimilar que precisam dizer o que está errado e por quê, em vez de irem direto
para as ações impulsivas”.
Além disso, também é importante demonstrar empatia pela
situação, dizendo que você entende o que está se passando dentro da cabeça e do
coração dele. No entanto, isso não quer dizer que você deve ceder às vontades
da criança ou mentir para ela dizendo que a situação será diferente. Em outras
palavras, se vocês passaram o dia inteiro no parque e seu filho está com raiva
porque já anoiteceu e está na hora de ir embora, você pode dizer que entende
que ele esteja bravo com você, mas já é tarde e vocês precisam voltar para a
casa, pois ele precisa comer, tomar banho, dormir.
Final feliz
No meio de turbilhão de emoções, pode parecer difícil tirar
um resultado positivo quando o filho fica bravo, mas é possível. Vamos supor
que seu filho esteja com raiva porque não foi bem em um prova ou esqueceu um
brinquedo na escola. Se isso acontecer, você pode analisar junto com ele quais
foram as dificuldades, ressaltar suas qualidades e incentivá-lo a estudar mais.
Caso uma conversa não resolva, dependendo da situação, fazer
uma atividade que distraia a criança também é uma opção. A psicóloga e
psicopedagoga sugere que, se a birra acontecer em casa, os pais podem propor
uma distração para descarregar a raiva, como picar papeis juntos. Em alguns
casos, pode até acontecer de a criança esquecer a raiva e se divertir com a
brincadeira.
A psicóloga do Instituto de Análise do Comportamento em
Estudos e Psicologia Camila Erdei Daguer, Camila Erdei Daguer, filha de Márcia
e Antonio, recomenda também algumas técnicas de relaxamento para acalmar a
criança. “Uma atividade que eu realizo muito no meu consultório é trocar as
cadeiras de lugar, e pedir à criança que se sente em uma e eu na outra. Coloco
uma de costas para a outra e pergunto, por exemplo, qual é a cor da almofada ou
o peço que descreva qual roupa estou usando. Dessa forma a criança consegue
prestar atenção no que está ao seu redor e se acalmar”, afirma.
Movimentos que ajudam a criança a prestar atenção no próprio
corpo também são úteis, como abrir e fechar as mãos, rodar o pescoço para o
lado direito e esquerdo, inspirar e soltar o ar.
Adultos também têm raiva
Que bom seria se a gente conseguisse manter a calma quando
nossos filhos estão descontrolados. Mas têm dias que não dá. A recomendação da
psicóloga Andreia é tentar manter a calma, pelo menos para explicar ao seu
filho que você também não está bem e se afastar dele por um tempo. Você pode
dizer: “Eu não estou bem, eu também estou com raiva e não quero conversar com
você para a gente não brigar”.
“É importante que os pais evitem se descontrolar na frente
dos filhos, pois eles são exemplos de conduta para as crianças. Sendo assim se
o filho vê que o pai não sabe lidar com a raiva ele pode imitar o seu
comportamento”, conta Andreia.
Todos precisam de um pouquinho de raiva
Excesso de nervosismo não faz bem para ninguém, mas aceitar
tudo calado, também não é o caminho. Segundo a psicóloga do Instituto de
Análise do Comportamento em Estudos e Psicologia, se a criança é permissiva
demais não desenvolve habilidades de enfrentamento, que são importantes para o
seu desenvolvimento e convivência em sociedade.
Andreia completa dizendo que pessoas que não expressam seus
sentimentos podem adoecer e ficarem deprimidas. Sendo assim, a lição que
tiramos de tudo isso é que é necessário equilibrar o desequilíbrio e
vice-versa.
Fonte: Paisefilhos